Desde o anúncio do fechamento de três unidades industriais da Ford no Brasil, no início deste mês, muitos especialistas se dedicaram ao tema para equacionar o que motivou essa decisão extrema. Dentre as razões estariam desde dificuldades do ambiente de negócios no Brasil até erros estratégicos da companhia, os quais teriam comprometido sua competitividade no mercado local, que nas últimas décadas passou a ser partilhado por um grande número de montadoras concorrentes.

 

A radical reestruturação das atividades da montadora na América do Sul teve seu primeiro sinal em fevereiro de 2019, quando a empresa decidiu encerrar as atividades de sua fábrica de caminhões no ABC paulista. Ao que tudo indica, começou a ser gestado ali um plano catalisado pela pandemia da Covid-19 e que culminou com o encerramento das atividades de manufatura das plantas de Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte, região metropolitana de Fortaleza (CE).

 

O impacto desses fatos foi grande no mercado de trabalho e na cadeia de suprimentos, que envolve fabricantes de peças plásticas. Confira nesta rápida entrevista com José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast/Sindiplast, como a decisão da Ford repercutiu no setor.

 

 

Plástico Industrial - Como a saída da Ford do mercado brasileiro deve impactar o mercado de transformação?

J.R.Roriz Coelho - Muitas empresas transformadoras de peças plásticas para o setor automotivo já têm como estratégia diversificar sempre que possível seus clientes. No caso da saída da Ford, os impactos no faturamento dessas empresas foram diferentes, mas, de forma geral, não houve grandes prejuízos.

 

 

Plástico Industrial - Há perspectiva de que os transformadores que forneciam para a montadora diversifiquem sua carteira em um curto prazo ou o impacto poderá levar a situações extremas como o fechamento de empresas?

J. R. Roriz Coelho - Existem casos de empresas que tiveram queda de 2% a 5% de seu faturamento e casos de impacto de 20% a 35% do faturamento. Nesses últimos, as companhias estão revendo seus planejamentos, cancelando pedidos de insumos previstos e novos projetos. Existe uma expectativa de que o mercado vai se ajustar, com melhora na demanda por parte de outras montadoras, que mantêm o ritmo de produção e estão lançando novas linhas e, possivelmente, poderão ampliar seu share de mercado.

 

Plástico Industrial – Há quem acredite que a atitude da Ford possa inspirar novas montadoras a fazer o mesmo. Qual a sua opinião a respeito?

J. R. Roriz Coelho - Um movimento de uma empresa como a Ford do Brasil acende a luz de alerta no mercado como um todo, com o receio de que outras marcas globais também encerrem sua produção no Brasil. O que se vê no mercado é o fato de que outras montadoras vêm mantendo seus projetos de investimentos na expectativa de recuperação do mercado brasileiro.

 

Plástico Industrial O parque transformador dedicado ao setor automobilístico está em alerta? 

J. R. Roriz Coelho - É fato que essa decisão foi tomada levando em consideração não apenas sua dificuldade em se manter competitiva perante os concorrentes, mas também devido ao elevado “Custo Brasil”. Segundo estimativas da própria Secretaria Especial de Produtiviade, Emprego e Competitividade (SEPEC/Ministério da Economia), os empreendedores brasileiros gastam R$ 1,5 trilhão de reais a mais por ano para produzir aqui do que na média dos países da OCDE.  

Uma agenda de atuação para reduzir esse custo Brasil é importante não apenas para manter grandes conglomerados internacionais aqui no País, mas, principalmente, para dar fôlego às empresas brasileiras. Em vez de pagarem por ineficiências burocráticas, podem usar recursos e esforços para inovarem e se posicionarem competitivamente no mercado internacional.

 

 

Foto: Shutterstock

 

 

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#Abiplast #FordsaidoBrasil #plásticos

 

 

 



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