por Flávio Silva*

 

É certo e sem volta que o mundo caminha para um ambiente de maior sustentabilidade nos negócios. Quando se fala em sustentabilidade, fala-se sobre seus aspectos ambiental, social e econômico. No setor de petroquímica e plásticos uma das formas de avançar neste sentido é com uso de plásticos reciclados nas aplicações.

Analisando grandes empresas petroquímicas, muitas delas já anunciaram ações de circularidade do plástico. Grande parte delas são investimentos em reciclagem, que atualmente é uma tecnologia dominada e de custo relativamente baixo.

A figura abaixo traz exemplos de algumas empresas petroquímicas tradicionais e seus anúncios de investimentos em plantas de reciclagem.

 

Podemos nos perguntar se a motivação desse movimento é apenas a sustentabilidade. Não seria mais lógico e suficiente se essas empresas reduzissem suas emissões de carbono, reduzissem o uso de água nos processos ou, ainda, reduzissem o consumo de energia, utilizando uma outra estratégia – que muitas já usam – para melhorar seus índices de sustentabilidade?

Pois bem, fazendo uma análise do potencial de demanda e geração de valor que a reciclagem de plásticos trará nos próximos anos, veremos que há muito mais em jogo.

Considerando os principais brand owners (donos de marcas) do mundo, praticamente, todos já anunciaram metas no sentido de aumentar o uso de plásticos reciclados em suas embalagens. Por exemplo, a Nestlé quer passar dos atuais 4% de conteúdo reciclado para 30% até 2025; já a Danone, no mesmo prazo, estima um aumento de 10% para 50% neste quesito.

 

Mercado bilionário

 

Considerando um grupo de 16 destas empresas, dentre as principais, caso atinjam suas metas até 2025, mesmo que a sua demanda por plásticos não cresça (um cenário pouco provável), isto geraria uma demanda por reciclados de cerca de 2 milhões de toneladas por ano.

Este crescimento só será possível se for também sustentável economicamente. Ao analisar dois estudos semelhantes de consultorias internacionais (McKinsey e Markets and Markets) observa-se que ambos chegam a estimativas semelhantes sobre geração de valor no segmento de reciclagem de resinas, na ordem de 60 bilhões de dólares até 2030. É óbvio que isso demandará despesas com investimentos, que podem chegar à casa dos US$ 40 bilhões.

Fica claro que as grandes empresas estão enxergando uma grande oportunidade de mercado e aumento de valor dos seus negócios em um segmento que vai gerar mais sustentabilidade para o setor como um todo.

Nos próximos anos veremos aumento do número de fusões e aquisições neste setor, parcerias surgindo e ganho de escala das plantas de reciclagem, ou seja, uma completa mudança da dinâmica para o setor de reciclagem e de petroquímicos.

As empresas de reciclagem – pequenas, médias ou grandes – que desejam ficar no setor ou que desejam encontrar uma parceria ou, ainda, se preparar para serem compradas, precisam se reposicionar, reestruturar seus processos e se preparar para uma maior competição.


 

Imagens: Robin Sommer, via Unsplash /Ohxide




 

*Flávio Silva é sócio-diretor da Oxhide Consultoria (Rio de Janeiro, RJ e Paulínia, SP)






 

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