por Alan Bonel*
Na busca pela neutralidade de carbono, a indústria automotiva já tem a solução em mãos: a leitura atenta das normas é o caminho. Montadoras tradicionais (Volvo, Scania, Volkswagen, Mercedes-Benz) estão cada vez mais estruturadas e adeptas ao uso de polímeros reciclados e reprocessados na aplicação de componentes. É importante, no entanto, garantir a performance dessas peças.
No mercado automotivo, materiais reciclados ganham cada vez mais destaque por serem uma alternativa sustentável imediata às metas de neutralidade de carbono. Por outro lado, ainda enfrentam resistência para uso em OEMs (Original Equipment Manufacturer) devido a riscos de baixa performance, contaminações e baixa estabilidade. Enquanto a indústria automotiva se abre ao uso de reciclados, falta a algumas engenharias enxergar que certos tipos já estão previstos e aprovados pelas normas.
Reciclados em circuitos fechados, reciclados de primeiro processamento, reprocessados, regranulados, reciclados internos. Esses são apenas alguns dos inúmeros exemplos de nomenclaturas utilizadas pelo mercado. O ponto essencial é que as sobras internas geradas pelas próprias empresas transformadoras de plásticos (galhos de injeção, rebarbas de termoformagem, aparas do sopro) podem ser recicladas e reaproveitadas na produção de componentes automotivos. Em outras palavras, se um galho de injeção representava, até então, uma perda de 20% no seu processo, por exemplo, esse material pode ser reprocessado internamente e reutilizado no mesmo componente.
Um exemplo claro é a norma DBL 5404 da Mercedes-Benz, que aconselha expressamente o uso de materiais reciclados. Segundo a montadora, eles devem cumprir todos os requisitos de segurança, superfície e demais tratativas para utilização em compartimento interno dos passageiros, tais como aspectos de fogging e odor. Já a norma VW 44045, da Volkswagen para peças de polipropileno (PP), permite a utilização de material reprocessado sem estabelecer qualquer tipo de derroga para os requisitos da mesma norma.
O recado é claro: peças com teores de materiais reciclados/reprocessados passarão pelos mesmos requisitos, testes, validações e homologações. O importante é entender o conceito para interpretar corretamente o que o cliente precisa. Praticamente todas as montadoras já normatizam essa prática. O mercado automotivo já entende que esse “reciclado de primeira viagem” não é, na verdade, um material reciclado qualquer. Há um interesse comercial bastante grande tanto por parte das montadoras quanto dos tiers, mas o que muitos ainda não veem é que o uso desses materiais está amparado nas normas das próprias montadoras. Então, fique atento com termos como “regrind”, “regrind from the first machining process”, “post-industrial recycled”, “ground stock”, “first processing” e tantos outros que ainda geram dúvidas, mas são mais simples do que parecem.
A interpretação precisa das normas se torna cada vez mais essencial à medida que a temática da sustentabilidade ganha mais importância central na indústria. Compreender conceitos básicos de Engenharia de Materiais e de Processos é fundamental, e um fator-chave para o sucesso na homologação de componentes automotivos. Projetos com apelo à sustentabilidade, utilização de reprocessados, utilização de sobras internas e reciclagem são estratégicos, mas demandam responsabilidade e transparência entre cliente e fornecedores.
A solução já está nas normas: profissionais com aptidão na leitura, interpretação e criatividade para buscar melhorias e novos desenvolvimentos exercerão papel fundamental nesse contexto. Em tempos de ESG e competitividade técnica, quem domina as normas, domina o futuro dos materiais.
(*)Alan Bonel é especialista em polímeros e atua há mais de 15 anos com foco em normas técnicas nacionais e internacionais, especialmente nas áreas de ensaios, laboratório e requisitos de montadoras. Compartilha conteúdos técnicos no LinkedIn e no canal do YouTube @bonelsimplificando.
__________________________________________________________________________________
Assine a PI News, a newsletter semanal da Plástico Industrial, e receba informações sobre mercado e tecnologia para a indústria de plásticos. Inscreva-se aqui.
___________________________________________________________________________________
Imagens: Alan Bonel / Wirestock Creators-Shutterstock
Leia também:
Mais Notícias PI
Empresa da Nova Zelândia levará para a feira K um sistema de conexão flexível que pode impedir a perda de plásticos micronizados em linhas de movimentação de materiais.
29/07/2025
Programa Think Plastic Brasil vai levar nove fabricantes de produtos plásticos à feira ASD Market Week, em Las Vegas.
29/07/2025
Firmar parceria com o SENAI e cooperativas de reciclagem é a estratégia da empresa que opera no Grande ABC. O objetivo é seguir aumentando o uso de polietileno de baixa densidade reciclado, proveniente de sobras de processos produtivos, na fabricação de embalagens como calços e plástico bolha.
29/07/2025