por Flávio Silva*

 

O mercado de reciclagem aqui no Brasil sempre foi muito difícil, e este ano está sendo ainda mais. A grande queda de preços das resinas virgens que vem ocorrendo desde meados de 2022 tem influenciado muito o setor. Primeiro porque o preço da resina reciclada é, em grande parte, influenciado pelo da resina virgem e segundo, quando a diferença entre ambas fica mais próxima, a tendência é a resina virgem roubar mercado da resina reciclada.

 

A dinâmica de mercado do setor de reciclagem é diferente daquela do mercado de resina virgem. Enquanto a resina virgem é uma commodity, com negociação internacional e preços globais que influenciam preços regionais em um mercado regido pela oferta e demanda mundiais (ó óbvio que a demanda regional também tem influência), o setor de reciclagem é caracterizado por oscilações regionais, com menos influência de preços de resinas recicladas de outros países e até mesmo regiões aqui no Brasil.

 

Até a estrutura de custos é diferente: quando os preços do petróleo caem, os custos das resinas virgens acompanham os do óleo. Já as recicladas têm uma limitação, principalmente, as que usam sucata pós-consumo, que são os custos de coleta e separação do material, cuja variação não está diretamente relacionada às variações dos preços do petróleo ou da energia.

 

Esta caracterização vale para todos os países onde se tem indústrias de reciclagem de plásticos. Então, como será que está a situação das empresas de reciclagem em outros países ou continentes?

 

Vamos separar a resposta em curto e médio/longo prazo. Sem sobreviver no curto prazo não se pode chegar ao médio e longo prazo. Na Europa e nos Estados Unidos a situação do curto prazo está muito parecida com o que estamos vivendo aqui no Brasil. O que se tem visto por lá:

 

- Substituição pela resina virgem em função da baixa de preços no mercado;

- Isso ocasiona uma consolidação do mercado e oportunidade de crescimento de capacidade para os players que têm caixa e, provavelmente, estão vindo de outros segmentos (como petroquímica, por exemplo);

- Perspectiva de um segundo semestre ruim para recicladores;

- Atraso na agenda dos brand owners no cumprimento de suas metas de uso de material reciclado nas embalagens;

- Diversas empresas estão reduzindo turnos de produção ou até mesmo paralisando sua produção;

- A visão dos recicladores é de que enquanto não houver uma legislação que obrigue o uso de um conteúdo mínimo de material reciclado, a decisão de compra será sempre a econômica;

- Grandes empresas estão aumentando suas capacidades de reciclagem, tais como Indorama, Ecoblue e Diyou Fiber, por exemplo.

 

Somente com algumas das visões acima já se pode perceber que não é somente o setor de reciclagem no Brasil que vem sofrendo. A questão é o que se pode esperar assim que passarmos por este ciclo de baixa no setor. Vamos então tratar de algumas análises que pesquisamos e estamos acompanhando.

 

O principal uso do material reciclado continuará a ser em embalagens. Em relação a isto, os maiores brand owners do mundo continuam a seguir com suas estratégias de aumentar a proporção de matéria-prima reciclada nas suas embalagens, assim como melhorar a reciclabilidade delas, facilitando o processo de reciclagem mecânica. Um exemplo recente é o da Coca-Cola, que optou pela embalagem transparente para o refrigerante Sprite, visando facilitar a sua reciclagem.

 

Se colocarmos no papel todas as metas que são divulgadas e fizermos a comparação com a oferta disponível, chegaremos à conclusão de que vai faltar material reciclado no futuro. Isso parece um contrassenso, pois é difícil imaginar, neste momento de falta de demanda, um cenário de falta de resina reciclada. O gráfico abaixo, elaborado pela McKinsey, mostra uma projeção de consumo e oferta de PET reciclado nos Estados Unidos.

 

 

Fonte: Mckinsey com ajustes e elaboração da Ohxide Consultoria

 

Realmente, se considerarmos a perspectiva de longo prazo, ao final desta década a demanda por resinas recicladas será alta e a possível escassez fará seus preços dispararem. Mas a questão é passar por este momento difícil atual. No mesmo gráfico, fica claro que entre os anos de 2023 e 2025 não há crescimento. Isso ocorre muito em função da baixa demanda global e da sobrecapacidade no setor petroquímico, que pressiona os preços e a demanda por reciclados.

 

De fato, a sustentabilidade nas embalagens é uma prioridade para os líderes da indústria de embalagens. Alcançar a circularidade pelo uso de materiais reciclados é um facilitador fundamental e uma oportunidade para o setor. Assim, o deve pensar estrategicamente, observando ao seu redor e identificando onde pode aplicar seu produto de maneira sustentável economicamente para resistir a este período de baixa e então poder usufruir do boom na demanda de reciclados que está por vir.

 

Para saber mais sobre este mercado ou de outras resinas e suas aplicações, e também para ter acesso a uma série de outras informações, entre em contato. A Ohxide publica também um relatório mensal de preços e mercado, cobrindo sete famílias de produtos (PE, PP, PVC, PET, PS, ABS e SAN) em três regiões do Brasil (SP, Sul e NE).

 

Imagem: CocaColaBrasil

 

 

*Flávio Silva é sócio-diretor da Ohxide Consultoria (Rio de Janeiro, RJ e Paulínia, SP)



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