Hellen Souza, da redação

 

A Novonor confirmou no início desta semana ter recebido da Unipar a proposta de compra de 34,36% das ações da Braskem. A proposta havia sido anunciada pelo grupo Unipar Carbocloro, com a divulgação de um fato relevante no dia 10 de junho, e prevê uma operação envolvendo o pagamento parcial dos bancos credores e uma renegociação para o saldo da dívida remanescente. Há ainda a possibilidade de a Novonor manter uma participação minoritária indireta na Braskem.

 

Conforme divulgado em comunicado de imprensa, a Unipar também vai negociar a participação da Petrobras na operação, buscando um formato satisfatório para todas as partes envolvidas. “Temos uma postura de composição que resulta de mais de um ano de estudos e considerações, até chegarmos ao formato atual, que representa a melhor alternativa em um cenário com tantos stakeholders. Agora, passaremos à fase de discussão com todos os envolvidos, como é esperado em uma operação desse porte”, explicou Bruno Uchino, presidente do Conselho da Unipar, que é hoje líder na produção de cloro e soda e a segunda maior produtora de poli(cloreto de vinila) (PVC) da América do Sul.

 

O anúncio teve efeito positivo no mercado, com as ações da Braskem em alta, por terem sido avaliadas em R$ 36,5 na negociação com a Unipar, valor muito superior aos R$ 25,60 praticados na sexta-feira, dia 10, quando foi divulgado o fato relevante.

 

O processo de venda da Braskem, que data de antes da pandemia, registra episódios que incluem tratativas com a holandesa Lyondell Basell, que acabou desistindo da negociação devido às questões ambientais envolvendo a extração de sal-gema em Maceió (AL), atividade que foi declarada como oficialmente encerrada em 2019.

 

Em seu comunicado, a Unipar destacou que o evento geológico em Alagoas também ocupa um papel central nas negociações: “os passivos estão provisionados nas demonstrações financeiras da Braskem”.

 

Destravando investimentos

 

No momento em que a oferta da Unipar foi feita, havia outros dois grupos interessados na Braskem: a J&F, empresa de investimentos da família Batista, dona da JBS, e o fundo de participações (private equity) Apollo Global.

 

Para João Luiz Zuñeda, da consultoria Maxiquim (Porto Alegre, RS), todos os interessados na compra planejam “entrar no negócio para crescer”: “a Unipar, que já é forte no negócio de PVC, entra em segmentos novos como PE e PP; a J&F, que já é uma empresa global, pode expandir seus negócios para o setor petroquímico; e o fundo Apollo, com participação no segmento petroquímico no Oriente Médio, poria o pé no mercado brasileiro”, comentou. Mas o mais importante, na sua opinião, é que a aquisição poderá destravar investimentos em uma indústria de base, como é a petroquímica, parada há quase duas décadas, e isso certamente vai se reverter na geração de riqueza para o País.

 

Extensão do monopólio

 

Já Flávio Silva, da consultoria Ohxide (Paulínia, SP e Rio de Janeiro, RJ), entende que a proposta da Unipar para a aquisição da Braskem tem como vantagem o fato de se tratar de um player que conhece do segmento e do Brasil, diferentemente do fundo Apollo e da J&F (JBS). “Isso não deve promover grandes mudanças no que diz respeito às políticas comerciais de vendas e preços”.


No entanto, a desvantagem é a continuidade do monopólio para o polietileno (PE) e polipropileno (PP), criando-se também o monopólio no PVC (hoje a Unipar é concorrente da Braskem). “Acreditamos que para o mercado de transformação de plásticos não muda muito, o que precisa ser entendido é como fica a relação com a Petrobras e a própria Novonor, pois pela proposta ela ainda seria sócia minoritária”, comentou Flávio.
 

Para ele, uma venda “fatiada” seria a melhor opção para o segmento de transformação, pois criaria uma concorrência local e consequentemente, redução de preços e ganhos na cadeia, indo até o consumidor. “E também não muda o grande entrave para o desenvolvimento de um mercado mais líquido e dinâmico como o norte-americano, pois continuaremos com um único player dono dos crackers de nafta e gás e com isso toda a matéria-prima básica (eteno, propeno e aromáticos), o que atende somente aos interesses de uma empresa e não promove o desenvolvimento de outras cadeias do setor”, avaliou.

 

 

 

Imagem: Braskem

 

 

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