por Fábio Bello e Flávio Silva*


 

A venda da Braskem é sempre um assunto que movimenta tanto a mídia especializada no setor petroquímico quanto o mercado de capitais. A grande questão é:  quem será capaz de levar a petroquímica nacional? A seguir vamos detalhar um pouco melhor o processo de venda, além de expor nossa visão sobre o tema.

 

A Braskem é a maior empresa petroquímica nacional, com faturamento líquido de R$ 97 bilhões e EBITDA de R$ 11 bilhões em 2022. A figura a seguir apresenta um resumo dos resultados nos últimos anos. 




 

A possível venda da empresa obrigatoriamente passa pelos seus sócios, a Novonor (ex-Odebrecht) e a Petrobras. Essas empresas possuem 50,1% e 47,0% de capital votante, respectivamente. O restante está pulverizado no mercado, como mostra a figura abaixo. 



 

Logo após a sua formação, na fusão com a Quattor Petroquímica, a Braskem se tornou monopolista nacional das resinas de polietileno e polipropileno, assim como da produção de eteno. Este movimento trouxe ao setor um impacto em termos de disponibilidade e preços de resinas e insumos básicos. E por isso mesmo, qualquer notícia que envolva a Braskem traz um alerta para as empresas de plástico e químicos do País. 

 

Independentemente de qual seja a motivação para a venda, dívidas como reflexo da Lava Jato para a Novonor ou mudança de estratégia para a Petrobras, o que imaginamos como mais relevante na discussão é o modelo que será aplicado na venda que poderá impactar o mercado de transformação de plásticos e seu desenvolvimento nos próximos anos. 

 

Breve histórico recente: a venda da Braskem ganhou força em 2018, com negociações entre a Novonor e a LyondellBasell. O processo evoluiu até a etapa de due diligence, mas em meados de 2019 foi encerrado sem um acordo. O mercado atribuiu o desfecho negativo ao incidente ocorrido em umas das unidades da Braskem em Alagoas e consequentemente à incerteza elevada sobre os valores que seriam necessários para mitigar o problema. Até o final de 2022, a Braskem desembolsou R$ 6,9 bilhões em ações de remediação e ressarcimentos, sem contar o provisionamento no balanço (R$ 4,2 Bi).

 

Logo após o encerramento das negociações, a Novonor entrou com um pedido de recuperação judicial (homologado 1 ano após). No acordo, o valor por ação da Braskem foi estimado entre R$ 37 sem controle a R$ 48 com controle Entretanto, a expectativa da Novonor era receber pela venda da sua participação na petroquímica R$ 17 bilhões líquidos (ou seja R$ 70,51 por ação), para pagar, ao menos, R$ 14 bilhões aos seus principais credores.

 

Em novo capítulo, em dezembro de 2021, os acionistas informaram ao mercado que estavam avaliando vender suas participações por meio de uma oferta secundária de ações na Bolsa de Valores Brasileira. Esta alternativa  perdeu força à medida que as ações foram perdendo valor em 2022 (gráfico abaixo).



 

Desde então, muitas notícias têm sido veiculadas sobre uma possível venda da Braskem, como por exemplo, uma oferta não vinculante do grupo J&F de R$ 9 bilhões pela participação da Novonor, ou seja R$ 30 por ação. Contudo, essa proposta foi recusada.

 

Nestas últimas semanas a Petrobras também se manifestou sobre o assunto. Com a mudança de governo, o comando da Petrobras já indicou que pode rever sua estratégia no setor, seja pela manutenção da diretriz de venda de sua participação ou até mesmo avaliar um possível aumento de capital na Braskem. 

 

As incertezas relacionadas ao novo governo e ações como a recente taxação das exportações de petróleo, tendem a afastar os investidores estrangeiros. Além disso, o tamanho do investimento em uma negociação deste tipo e a “relativa pressa” da Novonor em função da pressão dos credores, tende a tornar a Petrobras a favorita para comprar a Braskem. 

 

Contudo, o momento do mercado de capitais brasileiro (Ibovespa abaixo de 100 mil pontos) conjugado com o ciclo de baixa de setor petroquímico não parece corresponder às exceptivas de valor já manifestadas na intenção de venda. Até mesmo para a Petrobras, será difícil justificar um prêmio tão elevado na aquisição da Braskem.  

 

Do lado do mercado de transformação de plásticos, a torcida é que a empresa seja desmembrada. Uma venda fatiada, mais fácil do lado financeiro para encontrar comprador, porém, mais difícil operacionalmente, traria maior competição ao mercado, gerando ganhos para a indústria de transformação.

 

A única certeza é que a Novonor precisará ajustar sua visão de valor se quiser concretizar mais rapidamente a venda ou encontrar soluções diferentes das apresentadas até o momento, passando por exemplo, pela segregação do risco dos problemas ambientais em Alagoas ou venda dos ativos no Exterior segregados.

 

*Fábio Bello é consultor sênior parceiro e Flávio Silva é sócio-diretor da OHXIDE Consultoria (Rio de Janeiro, RJ e Paulínia, SP) – ohxide@ohxide.com.br

 

Foto: Braskem / Gráficos: Ohxide
 



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