O mercado europeu de poli(tereftalato de etileno) (PET) reciclado (R-PET) está atravessando em 2025 o seu período de menor volatilidade desde o início da pandemia. A relativa estabilidade, contudo, convive com desafios impostos por fatores regulatórios, pressões competitivas das importações e mudanças nas políticas das grandes marcas com relação ao uso de material reciclado.

 

São estas algumas das conclusões da análise de Matt Tudball, editor sênior da área de reciclagem da agência de inteligência de mercado ICIS (Independent Commodity Intelligence Services), sediada em Londres (Reino Unido). Em tempos de novos acordos comerciais com a União Europeia, é importante atentar para as características daquele mercado.

 

Ao final do verão europeu, a expectativa é de desaceleração da demanda, com a queda do consumo de bebidas e, por consequência, menor entrada de garrafas no fluxo de recicláveis. No entanto, essa redução favorece a formação de estoques de fardos, flakes e pellets, essenciais para abastecer o início da temporada de engarrafamento em 2026.

 

O aumento da oferta de fardos durante o verão pressionou os preços para baixo, ampliando a margem entre o PET virgem e os flakes incolores, uma distorção de preços que incentivou consumidores industriais a reduzir o uso de PET reciclado, especialmente em chapas, termoformadas e embalagens de bebidas.

 

Revisão de metas das grandes marcas

 

A análise aponta dois fatores que dominam a dinâmica competitiva atualmente na Europa: a entrada em massa de flakes e pellets de grau alimentício oriundos do norte da África e do sudeste asiático, com custos menores que os praticados na União Europeia (UE), e o enfraquecimento das metas ambientais entre empresas de bens de consumo rápido, as chamadas grandes marcas. Estas recuaram em seus compromissos de uso de material reciclado acima de 25%, priorizando o menor custo em um cenário de margens estreitas.


Embora a Diretiva de Plásticos de Uso Único da União Européia (SUPD, de Single-Use Plastics Directive) estabeleça a obrigatoriedade de 25% de conteúdo reciclado em garrafas PET para bebidas, ainda não foi observado movimento efetivo dos estados-membros para fiscalizar ou punir descumprimentos, criando espaço para decisões de redução do uso de R-PET por parte das marcas.

 

Na avaliação do autor, a competição acirrada com importações e PET virgem traz riscos de consolidação e fechamento de plantas de reciclagem na Europa. O impacto dessas possíveis mudanças na capacidade total de produção ainda é incerto, mas sinaliza preocupação generalizada entre recicladores e participantes do setor.

 

Complexidade regulatória


A regulação europeia continua causando preocupação no mercado, sobretudo no que se refere a aplicações de contato com alimentos. A decisão de execução da diretiva, prevista para este ano, permitirá contabilizar o R-PET produzido fora da UE para efeito de cumprimento das metas do SUPD, mas a plena conformidade exige aderência ao Regulamento (UE) 2022/1616, que demanda certificação de terceiros – especialmente pelos módulos RecyClass A1/A2 – e aprovação de processos de descontaminação junto à Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA).

 

Mudanças recentes, como a que torna o desenvolvedor do processo de descontaminação o responsável pelo pedido à EFSA, ampliaram as dúvidas regulatórias. Muitos recicladores não obtiveram pareceres positivos desde, dependendo da aceitação da documentação e diligência dos compradores, o que abre espaço para diferentes interpretações e gera insegurança no mercado.

 

Apesar do cenário complexo, iniciativas de governo e melhores práticas nas cadeias de fornecimento favorecem a perspectiva de melhor qualidade da matéria-prima com o avanço dos sistemas de devolução de depósitos, que estimulam a economia circular. Países como a Áustria já ampliaram significativamente o volume de garrafas recolhidas, a Polônia planeja a implementação para combater oscilações nos preços dos fardos.

 

Medidas como fiscalizações mais rígidas da SUPD e a possível aplicação de penalidades por metas descumpridas podem fortalecer a demanda por R-PET, assim como a ampliação de sistemas de tributação para incentivar o uso de reciclados, seguindo modelos praticados na Espanha e Reino Unido. No entanto, o impacto dessas políticas é gradual e, em países como a Itália, a tributação foi adiada para 2026.

 

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Imagem: Romberi/Shutterstock


 

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