Flávio Silva(*)
Atualmente existem no Brasil vinte e seis montadoras, cerca de 490 produtores de autopeças e mais de quatro mil concessionárias. A capacidade atual de produção nacional passa de 4,5 milhões de unidades por ano. Ou seja, estamos produzindo hoje pouco mais que 50% da capacidade. A ociosidade é grande no País.
Explorando um pouco da participação de mercado, considerando os números de unidades licenciadas para circulação, a Fiat é a líder de mercado, com 22% de market share, seguida pela Volkswagen com 16%, General Motors com 15% e Hyundai com 10% do mercado.
A primeira análise necessária é entender o panorama geral do setor automotivo no Brasil nos últimos anos. Com isso, utilizando dados da Anfavea, observam-se os dados constantes do gráfico abaixo.
Fonte: ANFAVEA e elaboração de Ohxide Consultoria
O gráfico acima mostra a evolução da produção nacional de automotivos (incluindo automóveis, caminhões, ônibus e outros). Fica nítido que até hoje o setor não conseguiu voltar ao patamar de produção pré pandemia de Covid-19.
Em 2019 eram produzidas mais de 3 milhões de unidades por ano, enquanto em 2024 ficamos ligeiramente acima das 2,5 milhões, ou seja, ainda 16% abaixo.
Detalhando melhor essas informações, o quadro abaixo mostra que o impacto se deu, mais intensamente, nos carros de passeio.
Fonte: ANFAVEA e elaboração de Ohxide Consultoria
Em um primeiro momento, algumas das explicações passam pelo impacto do modelo de home office implementado durante a pandemia, que fez com que muitas pessoas não precisassem mais se locomover ao trabalho. Outro fator são os altos preços dos automóveis, que têm impactado a decisão de compra entre um automóvel novo ou seminovo.
Consequentemente, o volume de plásticos utilizados na produção nacional de automóveis também deve ter reduzido. Sim, essa hipótese é correta, porém, a queda não ocorreu na mesma proporção. Utilizando dados públicos, de acordo com a Abiplast, entre 2019 e 2024, o consumo de termoplásticos na produção nacional de autos caiu apenas 2%. Ou seja, oito vezes menos que a produção de automóveis no Brasil. Isso significa que mais plásticos foram utilizados por unidade produzida.
E cada vez mais são utilizados plásticos nos automóveis, com algumas aplicações que nem poderíamos imaginar até pouco tempo atrás. A figura abaixo mostra alguns destes exemplos.
Fonte: https://proleantech.com/pt/automotive-plastic-parts/
Atualmente o peso de plásticos nos automóveis no Brasil varia numa faixa de 150 a 220 quilos, dependendo do modelo. A evolução é rápida: desde 2015 houve um crescimento de 17% no uso de plásticos em automóveis.
Dentre os termoplásticos, o principal produto utilizado é o polipropileno (PP), devido ao seu custo e versatilidade. No entanto, outros tipos de termoplásticos também são bastante utilizados, tais como as poliamidas (PA), poli(cloreto de vinila) (PVC), acrilonitrila butadieno estireno (ABS), polietilenos (PEs), policarbonatos(PC) e outros.
O perfil de consumo de termoplásticos no setor automotivo no Brasil é diferente da média mundial. Devido a questões tecnológicas, produtivas e de disponibilidade, o setor automobilístico nacional tem um percentual maior de uso de resinas commodities como PP, PEAD e PVC. Porém, poliamida, policarbonato e ABS são bastante utilizados também. A figura abaixo mostra essas diferenças de perfil.
Fonte: Pesquisa e elaboração de OHXIDE Consultoria
Pensando no futuro e como os mercados irão se comportar, foram identificadas algumas tendências do setor automotivo mundial e que se aplicam ao mercado nacional.
São elas:
Busca por redução das emissões de gases (carros low-carbon);
Influência do peso do veículo nas emissões e no consumo de combustível;
Eletrificação da frota;
Necessidade de aumento da infraestrutura de carregamento;
Aumentos do uso de materiais reciclados na composição;
Aprimoramento da segurança;
Uso de materiais mais leves e resistentes;
“Smartification”, algo como ïnteligência embarcada" nos automóveis;
Integração e conectividade do automóvel;
Aceleração do uso de carros autônomos (prazo mais longo);
Compartilhamento de automóveis;
Aumento do serviço de uso de carros, em vez da compra;
Mais especificamente para o mercado nacional é possível chegar a algumas conclusões qualitativas do estudo que devem ocorrer nos próximos anos:
Aumento das especificações de PP reciclado pós-consumo com blend de PP virgem, por exemplo, assim como o uso de compostos com fibra de vidro para consoles de carros;
Expansão do uso do ABS em sistemas de iluminação automotiva. Peças antes moldadas em PC/ABS, com o uso do LED (que emite menos calor), podem passar a ser moldadas apenas em ABS. Em alguns casos, ABS de uso geral, e não necessariamente grades com resistência a altas temperaturas;
Já os carros elétricos exigem outros tipos de termoplásticos.
Com o aumento da produção local de carros elétricos, a procura por polímeros mais específicos está aumentando, principalmente para peças que compõem os motores elétricos;
Propriedades como retardamento de chama, isolamento elétrico e resistência térmica e química se tornam cada vez mais relevantes para aplicações nos carros elétricos;
Alguns exemplos: polifluoreto de vinilideno (PVDF); poliftalamida (PPA ); polissulfeto de fenileno (PPS); polieteretercetona (PEEK); polifenilssulfona (PPSU);
Dentre os polímeros convencionais, com o aumento dos carros elétricos as poliamidas e as blendas de ABS/PC devem ganhar mais espaço;
Assim como compostos com fibras e vidro, o PP também deve se beneficiar;
Os dados apresentados são parte de um estudo completo que contempla ainda uma série de indicadores quantitativos, mas que não podem ser divulgados publicamente, com projeções de crescimentos, resinas termoplásticas que mais serão utilizadas, entre outros. O estudo pode ser solicitado pelo e-mail ohxide@ohxide.com.br.
A Ohxide elabora também um relatório mensal de preços e mercado, uma publicação que cobre mais de oito famílias de produtos (PE, PP, PVC, PET, PS, EVA, SBR, plásticos de engenharia (ABS, SAN, PC, PA6 e 6.6, POM) e agora também as resinas recicladas (PCR e PIR) em quatro regiões (SP, Sul, NE e Manaus).
*Flávio Silva é sócio-diretor da Ohxide Consultoria (Rio de Janeiro, RJ e Paulínia, SP)
__________________________________________________________________________________
Assine a PI News, a newsletter semanal da Plástico Industrial, e receba informações sobre mercado e tecnologia para a indústria de plásticos. Inscreva-se aqui.
___________________________________________________________________________________
Leia também:
Otimização da topologia como estratégia para desenvolver componentes plásticos sustentáveis
Fabricação de autopeças usando PP expandido com conteúdo reciclado
Mais Notícias CCM
Evento está em sua quarta edição e terá em seu programa apresentações sobre materiais, normas, equipamentos para o processamento de bioplásticos e casos de sucesso relacionados ao uso desses materiais.
03/06/2025
Missão organizada pelo Think Plastic Brazil vai levar 21 representantes de empresas fabricantes de produtos plásticos para rodadas de negócios em Joanesburgo.
03/06/2025
Foi lançado pelo Instituto Brasileiro do PVC um comitê que vai intensificar a disseminação de informações sobre a circularidade do poli(cloreto de vinila).
03/06/2025