por Flávio Silva*

 

Não está fácil para ninguém, e nem para as grandes petroquímicas nacionais. Braskem e Unipar divulgaram seus resultados do segundo trimestre do ano na semana passada e reportaram resultados bem inferiores aos do primeiro trimestre.

 

Como reportado em nosso relatório de preços, a tendência era de queda neste primeiro semestre do ano. Associada a esta queda nos preços, houve redução das vendas internas de resina nas petroquímicas. Estes dois fatores juntos acarretaram queda dos lucros. A seguir estão algumas considerações sobre o resultado de cada uma das empresas citadas.

 

Iniciando pela análise de lucro líquido, que é um dos principais indicadores de desempenho de empresas, no gráfico abaixo estão os últimos cinco trimestres de resultados das empresas (Braskem e Unipar).

 


Fonte: Braskem e Unipar com ajustes e elaboração da Ohxide Consultoria

 

Fica clara a diferença entre elas, mas este indicador para a Braskem tem sido muito impactado por questões não operacionais, tais como passivos referentes ao caso de Alagoas, entre outras. Devido a isso, vamos analisar outro indicador interessante, que é o EBITDA. Este representa melhor os resultados operacionais das empresas. Veja o gráfico abaixo.

 


Fonte: Braskem e Unipar com ajustes e elaboração da Ohxide Consultoria

 

Ao observar este gráfico percebe-se que nem a Braskem e nem a Unipar tiveram geração de resultado operacional negativo neste período. Porém, fica clara a queda de desempenho da Braskem ao longo deste um ano de análise.

 

O segundo semestre de 2022, quando a Braskem obteve resultados fantásticos, foi muito impactado pela questão da guerra da Ucrânia, então recém-começada. Além disso, tivemos questões de limitação de contêineres, o que restringiu e encareceu as importações. Estes dois fatores explicam muito bem, este resultado “fora da curva”. A Unipar tem uma performance mais constante, sem grandes variações.

 

O gráfico a seguir retrata as vendas de resinas termoplásticas das duas empresas, sem abordar os produtos químicos.

 


Fonte: Braskem e Unipar com ajustes e elaboração da Ohxide Consultoria


O gráfico mostra algo já comentado aqui em ocasiões anteriores, ou seja, a redução de market share da Braskem. Fica nítido na figura acima que a empresa vem perdendo participação desde o início do ano passado e essa perda vem sendo ocupada por importações. Mas, uma parte disto é resultado da redução na demanda interna, que está mais fraca do que no ano anterior, até o momento. Os dados da Unipar também mostram uma queda, embora de menor relevância, quando comparada com o resultado da Braskem.

 

Somente por esta breve análise, fica claro que a queda de desempenho das maiores empresas petroquímicas do país se dá por questões de mercado, atreladas à grande redução de preços que ocorreu neste primeiro semestre do ano.

 

Até agora, na grande maioria das empresas, a queixa é quase a mesma: demanda fraca; produto estocado; mercado parado. E de fato, por mais que algum exagero possa haver nas lamentações, a queda de desempenho das petroquímicas mostra que a demanda interna não está respondendo.

 

A esperança é que a chegada do segundo semestre e o início da queda na taxa de juros possam alavancar a demanda, recuperar boa parte da perda que já ocorreu e realinhar o crescimento do mercado de resinas termoplásticas com o crescimento da economia (PIB), cujas previsões atuais apontam para mais 2% em 2023.

 

Se quiser conhecer mais sobre este mercado ou de outras resinas e suas aplicações e ainda ter acesso a uma série de outras informações, a Ohxide possui um relatório mensal de preços e mercado, uma publicação que cobre sete famílias de produtos (PE, PP, PVC, PET, PS, ABS e SAN) em três regiões (SP, Sul e NE).


 

*Flávio Silva é sócio-diretor da Ohxide Consultoria (Rio de Janeiro, RJ e Paulínia, SP)

 

 

Veja todas as análises de Flávio Silva na coluna Petroquímicos.

 

 



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