*Por Antonio Rodolfo Junior e Mauro Adamo Seabra
A sustentabilidade é um dos grandes paradigmas contemporâneos da engenharia, infraestrutura e construção civil. Fundamentado em três pilares — ambiental, social e econômico —, o conceito propõe um equilíbrio entre desenvolvimento, preservação dos recursos naturais e qualidade de vida das pessoas. Por sua vez, os princípios de ESG (Environmental, Social and Governance) expandem o conceito, orientando o setor produtivo à adoção de práticas éticas, transparentes e socialmente responsáveis.
No Brasil, o desafio de ampliar o acesso à água potável e ao saneamento básico, conforme os objetivos do Marco Lega
l do Saneamento (Lei nº 14.026/2020), assim como o de se promoverem edificações mais eficientes, economicamente interessantes e seguras, reforça a necessidade de soluções duráveis e sustentáveis.
Nesse contexto, o PVC (policloreto de vinila) se destaca, tanto no atendimento à demanda do saneamento, quanto ao crescimento da construção civil (há uma grande demanda esperada de “reformas sanitárias” em unidades habitacionais - adequação interna das residências para interligação a redes de abastecimento de água e coleta de esgotos). Isso porque combina eficiência técnica, baixo impacto ambiental, alta durabilidade e excelente custo-benefício.
Trata-se de um termoplástico altamente testado e consagrado, cujas primeiras aplicações em larga escala remontam a quase 100 anos. Desde a década de 30, tubulações de PVC já começavam a ser aplicadas na infraestrutura, sendo as primeiras produzidas por volta de 1935 na Alemanha, usadas em instalações prediais no ano seguinte naquele país. No Brasil, o início da produção deu-se em 1952, em instalações prediais, no mesmo ano em que a produção também se iniciou nos Estados Unidos.
O sucesso dessa aplicação e sua notável contribuição para a sustentabilidade podem ser explicados pela série de vantagens apresentada pelo PVC, que vão desde atoxidade, baixos fatores de emissão de gases de efeito estufa e consumo energético nas etapas de produção, resistência química e mecânica de longo prazo, desempenho diferenciado, alta durabilidade e baixo índice de perdas.
Sustentabilidade e baixo impacto ambiental
Considerando o pilar ambiental da sustentabilidade, o PVC apresenta baixo impacto e eficiência energética. A composição do PVC já o diferencia, uma vez que 57% de seu peso molecular é obtido a partir do cloro presente no sal marinho, matéria prima praticamente inesgotável na natureza, o que por si só já reduz sua pegada de carbono. Já existem, inclusive, rotas de reciclagem química em desenvolvimento que, a partir da decomposição controlada do PVC pós consumo, pretendem gerar hidrocarbonetos e cloreto de hidrogênio, apto à produção de novo PVC virgem.
A COP 30, realizada em Belém (PA), reforça a urgência global de redução das emissões de gases de efeito estufa e da transição para uma economia de baixo carbono. É importante ressaltar que a produção de tubulações de PVC para redes de saneamento e para instalações hidráulicas prediais é, entre as diferentes soluções do mercado, a que apresenta menores fatores de emissão de gases de feito estufa e o menor consumo energético no processo. Em alguns casos, fatores de emissão de CO2 equivalente e consumo de energia chegam a ser até 80% inferiores na produção do PVC, quando comparados a outras soluções (dados do Comitê de Meio Ambiente do Sinduscon/SP - “Guia Metodológico para Inventário de Obra”, reconhecido e adotado pelo Ministério das Cidades).
Outro ponto importante é que o PVC é 100% reciclável. A economia circular é um caminho fundamental e promissor e seu desenvolvimento deve ser conduzido com responsabilidade técnica e transparência, especialmente em áreas que envolvem saúde pública e infraestrutura essencial. Vale lembrar que práticas adotadas em mercados de referência, como Europa e Estados Unidos, frequentemente estabelecem diretrizes para países. Nesses mercados, o uso de materiais reciclados, sejam eles pós-industrial (PIR) ou pós-consumo (PCR), em aplicações que envolvam contato direto com água potável ou em sistemas sujeitos à pressão é atualmente restringido. Essa abordagem busca garantir a potabilidade da água, a integridade dos sistemas, sua durabilidade e a segurança dos usuários.
Por outro lado, no segmento de tubos e conexões, o uso de PCR é aceito em aplicações específicas e controladas, como na camada intermediária de tubos estruturados para esgoto, tal como prescrito na norma ISO 21138-2, não havendo contato com o líquido que está sendo conduzido nem exigência de resistência à pressão interna. Trata-se de uma aplicação técnica, de riscos reduzidos, na qual o PCR pode ser utilizado de forma segura e regulamentada.
Considerando esse cenário, o uso de PVC reciclado em sistemas de transporte de água potável ainda demanda um aprofundamento maior, referências técnicas consolidadas internacionalmente e condições de se assegurar com rigor a potabilidade da água em contato com materiais reciclados. Ao mesmo tempo, o setor reafirma seu compromisso com a segurança da população, a confiabilidade dos sistemas de abastecimento e o alinhamento com as melhores práticas globais.
Já do ponto de vista do pilar Social da sustentabilidade, o impacto positivo do PVC está fortemente associado à segurança sanitária e à qualidade da água transportada, promovendo saúde e bem estar.
Para permitir a produção de tubulações, a utilização de resinas de PVC requer sua mistura com substâncias ou compostos com finalidades diversas, como estabilizantes, lubrificantes, cargas e reforços. Nenhum desses compostos apresenta elementos que possam representar qualquer risco ao homem ou à natureza. Vale ressaltar, como exemplo, que o uso de estabilizantes à base de chumbo foi voluntariamente banido pela indústria do PVC há mais de 20 anos, garantindo maior segurança química à sua formulação.
O resultado é a obtenção de tubos inócuos, que não transferem quaisquer agentes químicos que possam comprometer a qualidade da água transportada na tubulação. Não obstante, o setor é monitorado por uma norma técnica ABNT que define requisitos e métodos de ensaio para o controle da presença de substâncias químicas em tubos e conexões usados em transporte de água, baseada em padrões internacionais.
Já quanto a questão é o pilar econômico da sustentabilidade, o PVC se destaca na eficiência, desempenho e qualidade garantida, o que resulta em economia e competitividade. Aplicadas em redes de distribuição de água e de coleta de esgotos, as tubulações apresentam uma série de vantagens, desde a instalação até a manutenção. São essencialmente tubos leves, com grande facilidade no manuseio em obras, mesmo em grandes diâmetros. A utilização de sistemas de bolsas com anel integrado facilita a interconexão entre as barras, com garantia de estanqueidade, levando a uma notável redução no índice de falhas e perdas de recursos hídricos.
Outro ponto forte é o da longevidade de redes implementadas em PVC. Estudos recentes divulgados na Europa e nos EUA sugerem que o ciclo de vida de tubulações em PVC pode superar 100 anos de atividade, se garantida a conformidade às normas aplicáveis.
Para garantir performance e competitividade, há mais de 30 anos, a indústria do PVC no Brasil mantém programas de qualidade relacionados às suas soluções utilizadas em infraestrutura de saneamento, em instalações hidráulicas prediais e até mesmo nos eletrodutos plásticos utilizados em sistemas elétricos de baixa tensão em edificações.
Os programas, que se enquadram em uma Política de Estado estabelecida pelo Governo Federal, sendo reconhecidos pelo PBQP-H – Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat, mantido pelo Ministério das Cidades, foram implementados sob governança da ASFAMAS a partir de 1988, tendo como princípio a elaboração de mecanismos específicos de avaliação intensiva e continuada dos produtos regularmente oferecidos ao mercado, através de amostragem de produtos em fábricas, revendas e obras, levados a testes para avaliação e atestação de conformidade às normas técnicas exigidas em cada aplicação.
Os indicadores setoriais de conformidade aos requisitos normativos têm se mantido acima de 95% ao longo dos anos, o que é de extrema importância na temática ESG. A não conformidade representa desperdício de material, da energia empregada na produção não conforme, risco de contaminação ao meio ambiente e até mesmo um fator de degradação social.
Todas essas questões impactam diretamente em aspectos cruciais quando se pensa na vertente econômica da sustentabilidade, evidenciando o papel do PVC como solução eficiente e competitiva para os desafios da infraestrutura urbana. Com baixo impacto ambiental, elevada durabilidade, segurança sanitária e governança de qualidade, o setor de tubulações de PVC demonstra seu alinhamento aos princípios ESG e sua contribuição direta para o desenvolvimento sustentável do país. Mais do que um material, o PVC é hoje uma ferramenta essencial para garantir infraestrutura resiliente, acessível e sustentável para as próximas gerações.
*Antonio Rodolfo Junior é diretor Técnico do Instituto Brasileiro do PVC e gerente de Engenharia de Aplicação – PVC da Braskem S/A
Mauro Adamo Seabra é gestor Executivo da Associação Brasileira de Materiais para Saneamento (ASFAMAS) - Grupo Setorial PVC
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Imagem: Shutterstock
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