Por Fábio Bello*

 

No Brasil, a nafta petroquímica é o principal insumo utilizado pelas indústrias petroquímicas de primeira geração (os crackers petroquímicos), que também consomem condensado, etano, propano e hidrocarbonetos leves de refino (HLR).

 

Com a mudança na estratégia de produção e fornecimento da Petrobras, priorizando a produção de gasolina, nos últimos anos houve uma redução da oferta local de nafta. Com isso o País se tornou um grande importador desta matéria-prima. E a Braskem, dona dos três polos petroquímicos nacionais que consomem nafta (situados em Triunfo, RS, Camaçari, BA e Capuava,SP), passou a importar volumes cada vez maiores.


Em 2022, as importações de nafta petroquímica totalizaram cerca de 4,7 milhões de toneladas, representando uma queda de 15% em relação ao ano de 2021, como pode ser visto na figura abaixo. Essa redução se deve em grande parte à parada programa do cracker da Braskem no RS durante o segundo trimestre de 2022.

 

Fonte: Comex Stat / Ohxide

 

Os Estados Unidos, seguindo a tendência dos anos anteriores, se consolidaram como principal fornecedor brasileiro de nafta, sendo a origem de 49% das importações em 2022. Essa liderança se deve à grande disponibilidade de nafta leve produzida a partir do gás de xisto (shale gas). Em seguida aparece a Rússia, com 24%, devido ao efeito das sanções aplicadas em razão da guerra da Ucrânia que restringiu o mercado europeu para suas exportações. Cabe ressaltar a redução observada nas importações da Argélia, que chegou a fornecer 42% em 2014, caindo para 5% no último ano.

 

Além da nafta, o polo petroquímico de Triunfo (RS) também pode processar o condensado petroquímico. Os dados oficiais de importação não segregam o condensado petroquímico do que é enviado para o consumo na refinaria do Rio Grande do Sul, a REFAP. Contudo, com base no perfil de qualidade, é possível estimar que das 3,3 milhões de toneladas de condensado importadas, pelo menos 20% são do perfil utilizado pela petroquímica.

Assim como na nafta, os Estados Unidos também se consolidaram como a principal origem das importações de condensado para o Brasil em 2022 respondendo por 44%, seguido pela Argélia com 22%, como aponta o gráfico abaixo.

 

Fonte: Comex Stat / Ohxide  

 


A partir de 2017, o Brasil passou a importar etano dos EUA para suprir as unidades das Braskem no Rio de Janeiro e na Bahia (que foi adaptada para poder processar cargas mais leves). De acordo com os dados da agência norte-americana do setor de energia, a EIA (Energy Information Administration), em 2022 foram importadas pelo Brasil 8,7 mil toneladas, bem abaixo do pico de mais de 60 mil toneladas em 2018 (época em que o etano estava com o preço bastante atrativo para o setor com a sobreoferta ocasionada pelo shale gas norte-americano).

 

 

 Fonte: Elaboração própria da Ohxide a partir dados da EIA

  

As perspectivas para 2023 sinalizam um cenário de maior importação de nafta e de condensado do que o observado em 2022, uma vez que não há previsão de grandes paradas nas unidades da Braskem para este ano. Quanto ao etano, a expectativa é que o volume importado se mantenha em linha com o realizado dos últimos quatro anos. Esperamos que os Estados Unidos se mantenham como a principal fonte das importações brasileiras de matéria-prima para a indústria petroquímica nacional. Mas é importante continuar monitorando as condições geopolíticas, como a situação da guerra na Ucrânia, pois no caso de um acirramento do conflito, pode haver impactos nas importações em termos de preço e disponibilidade, acarretando aumentos de custos para todo o setor, que atualmente já enfrenta um cenário de margens mais apertadas em função da baixa no ciclo petroquímico gerado pela sobreoferta de capacidade e pelo menor crescimento da demanda global.


 

Os leitores que quiserem tirar dúvidas, aprofundar o assunto ou, ainda, sugerir temas a serem abordados aqui nesta coluna, podem enviar mensagem para a redação de revista (hellen.souza@arandaeditora.com.br) ou direto para o nosso e-mail (ohxide@ohxide.com.br).

 

 

*Fábio Bello é consultor associado da OHXIDE Consultoria (Rio de Janeiro, RJ e Paulínia, SP)


 



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