Atualmente, o segmento de ferramentaria enfrenta muitos desafios. Mesmo antes da crise causada pela pandemia de Covid-19, o mercado de aquisição de ferramental tendia a ser hesitante. Ao mesmo tempo, mais e mais ferramentarias internacionais de alta qualidade entraram nos mercados locais, muitas delas estabelecendo suas próprias instalações para a prestação de serviços. A pandemia de Covid-19 fez com que a recuperação da demanda global por ferramental fosse mais uma vez adiada. Além disso, é difícil prever o desenvolvimento a longo prazo das ferramentarias, pois isso depende de numerosos e diferentes fatores.

Entretanto, hoje já se pode constatar que todos os cenários de desenvolvimento possuem dois pontos em comum em termos de conteúdo. Em primeiro lugar, as redes digitais: a longo prazo, as ferramentarias só poderão garantir a sua competitividade se aumentarem significativamente sua eficiência e desenvolverem novos fatores de diferenciação. Essas duas últimas ações só são possíveis pela conexão digital, uma vez que o potencial dos métodos clássicos de manufatura enxuta já foi amplamente esgotado e os concorrentes internacionais estão cada vez mais se adaptando à diferenciação.

Em segundo lugar, a questão da sustentabilidade: até agora, as atividades políticas e sociais relacionadas a ela tiveram um impacto muito limitado nas ferramentarias. No entanto, como os fabricantes em série e agentes financeiros também estão cada vez mais focados na questão da sustentabilidade, surge uma necessidade de ação das empresas para garantir acesso, a longo prazo, a capital e a novos pedidos. A seguir, esses fatores serão detalhadamente explicados em relação à sua importância e implementação nas ferramentarias.

 

Conectadas interna e externamente conforme os requisitos

As ferramentarias ligadas às redes digitais são conectadas interna e externamente, de acordo com requisitos específicos, de forma a poder tornar mais eficientes seus processos e aumentar os benefícios proporcionados aos fabricantes em série. A imagem-alvo desenvolvida pela Academia de Ferramentaria de Aachen (Aachener Werkzeugbau Akademie GmbH, WBA), na Alemanha, descreve como se deve proceder à configuração de aplicativos específicos, proporcionando assim às ferramentarias os benefícios da conectividade digital (figura 1).

Fig. 1 – O objetivo da conexão digital das ferramentarias está no aumento de sua própria eficiência, bem como no apoio aos fabricantes em série (Fonte: WBA; Gráfico: Hanser).

Além da ferramentaria e do fabricante em série, os processos externos de valor agregado de fornecedores devem ser considerados.

As possíveis aplicações das redes digitais são classificadas em quatro níveis de maturidade: visualização; transparência; prognóstico e adaptabilidade.

As soluções para a visualização de dados (por exemplo, a exibição de dados de equipamentos) representam a entrada em rede digital, pois requerem um banco de dados disponível e depurado, condição obrigatória para todas as etapas posteriores. Com base nisso, a identificação das correlações a partir do banco de dados permite analisar, por exemplo, quais fatores influenciam a vida útil das ferramentas de fresamento. Esse conhecimento constitui a base para uma reação automatizada a um estado de sistema previsto (por exemplo, para se evitar a ruptura de uma determinada ferramenta).

A visão de TI (Tecnologia da Informação) para cada caso de aplicação deve ser configurada com base nos benefícios desejados. Isso geralmente não é visível para os usuários posteriores dos sistemas, mas requer o máximo esforço durante o seu desenvolvimento. A visão de TI é configurada nos níveis de fontes de dados, middleware (suporte lógico intermediário) e análise de dados. Para este propósito, geralmente é necessário que dados provenientes de diferentes sistemas sejam novamente coletados e analisados durante a fabricação de ferramental.

A agregação de dados requer um middleware que processe informações provenientes de diversos sistemas. Além disso, as ferramentarias precisam lidar com os facilitadores organizacionais e tecnológicos que vão oferecer a solução. Isso se aplica, por exemplo, à capacitação de colaboradores e/ou ao uso de tablets no chão de fábrica.

Entretanto, o acesso às redes digitais não restringe as ferramentarias ao aumento de sua própria eficiência e aos benefícios proporcionados aos fabricantes em série. Isso também é um facilitador essencial para uma genuína sustentabilidade. Uma vez que a rede digital torna transparente o desenvolvimento, a fabricação e o uso do ferramental ao longo de todo o seu ciclo de vida, e em todos os estágios da cadeia de valor, a sustentabilidade pode ser avaliada e otimizada de maneira válida.

 

Ferramentaria como facilitadora da produção sustentável

O alinhamento com a sustentabilidade exigido pelos fabricantes em série e instituições financeiras traz desafios para as ferramentarias. A WBA, em seu estudo “Sustentabilidade como fator competitivo – um diferencial para as ferramentarias”, exemplificou como elas podem aumentar a sua própria sustentabilidade e a de fabricantes em série. Para tanto, foi desenvolvida uma imagem-alvo que mostra os campos de atuação da chamada “ferramentaria sustentável”, a qual deve servir como guia para as ferramentarias interessadas neste tema (figura 2). Neste sentido, é importante otimizar os campos de ação em termos da variedade de serviços, recursos, processos e colaboradores, não apenas do ponto de vista financeiro, mas tendo como pano de fundo o “Caso de negócios para sustentabilidade” (Business Case for Sustainability). Isso significa interpretar a eco e a socio efetividade requerida pelos acionistas no contexto do pensamento empreendedor ecológico e sócio-eficaz. Como resultado, esses conceitos englobam a simbiose de aspectos ecológicos, sociais e econômicos para tornar economicamente atraente a ação sustentável. A partir da configuração sustentável de seus serviços, as ferramentarias podem apoiar a agenda de sustentabilidade dos fabricantes em série.

Fig. 2 – Com suas medidas, as ferramentarias sustentáveis também apoiam a agenda da sustentabilidade dos fabricantes em série (Fonte: WBA; Gráfico: Hanser).

Além das medidas que são implementadas diretamente no ferramental – por exemplo, o uso de isolamento de um molde de injeção para reduzir as solicitações impostas ao controle de temperatura –, isso também engloba outras atividades no processo. Pode incluir, por exemplo, a seleção de material do artigo ou prestação de serviços completamente novos, como a reutilização de componentes do ferramental.

No que tange aos campos de atuação de recursos, processo e colaboradores, as ferramentarias garantem uma prestação de serviços de forma mais sustentável do que a concorrência. Isso é de particular importância porque, no futuro, para garantir sua própria sustentabilidade, os fabricantes em série, ao adquirir ferramental, avaliarão, além do preço, as atividades alinhadas à sustentabilidade. Inicialmente, isso se refletirá em certificações e auditorias gerais.

Entretanto, a médio prazo, isso será expresso por meio de uma avaliação específica da ferramentaria no que diz respeito à quantidade de CO2 que emite e, posteriormente, pela sua sustentabilidade holística, que deverá ser avaliada de forma quantitativa.

 

Conclusão

Muitos fatores determinarão como se desenvolverá no futuro a colaboração entre as ferramentarias e os fabricantes em série. O que todos os cenários de desenvolvimento têm em comum é o fato de que eles serão caracterizados pela utilização de redes digitais e pelo engajamento em sustentabilidade. Para ter sucesso no mercado a longo prazo, as ferramentarias devem encontrar uma entrada nas duas áreas temáticas.

Em primeiro lugar, os fabricantes de ferramental terão de definir estrategicamente os casos de aplicação para a otimização interna e aumentar os benefícios para o cliente com base na conexão às redes digitais. Em segundo lugar, é necessário implementar protótipos de aplicativos baseados em dados já existentes para se desenvolver um entendimento básico. Como terceira etapa, devese equilibrar as próprias emissões de CO2 ao nível da empresa e do ferramental como uma introdução à sustentabilidade. E devem ser estabelecidas medidas eficazes para que o equilíbrio entre a sustentabilidade própria e a do cliente possa ser melhorado significativamente.


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