Natal Pasqualetti Neto*

 

 

Alguns anos atrás uma empresa me ligou porque o seu cliente estava exigindo que fossem inseridos na folha de processo os dados sobre os parâmetros de regulagem de pressão de uma prensa.

 

O fato é que a palavra-chave dos sistemas de qualidade é “repetibilidade”. Os sistemas de qualidade não obrigam que o produto seja o melhor do mundo, mesmo porque temos no mercado um mesmo produto em vários níveis, bem como diferentes valores comerciais. O importante é que o produto que uma empresa se compromete a fornecer tenha sempre as mesmas características.

 

Tecnicamente, a forma de manter as características de um produto é ter valores bem definidos e controlados em todas as etapas do processo.

 

No caso da regulagem de pressão da prensa, ou seja, a regulagem de altura do martelo, eu considero este o ponto mais crítico na preparação de prensas mecânicas.

 

Normalmente são utilizadas várias ferramentas em uma mesma prensa, e estas ferramentas possuem alturas diferentes. Na montagem da ferramenta temos que ajustar a altura do martelo conforme a altura da ferramenta.

 

Na figura abaixo podemos entender o princípio de funcionamento da regulagem do martelo.

 

 

 

 

Nas prensas mecânicas grandes esta regulagem é motorizada, as quais costumam ter mais de um ponto de pressão.

 

 

 

 

Os valores da altura máxima da ferramenta e a regulagem de altura do martelo são fornecidos na placa de dados técnicos da prensa.

 

Exemplo:

 


 

 

Analisando os dados da prensa mecânica usada como exemplo temos:

 

 

 

 

Portanto, a altura mínima da ferramenta é:

 

 

 

A dificuldade na regulagem da altura, por ser este um processo empírico, depende da prática e experiência do preparador.

 

Se a ferramenta tiver exatamente 500 mm e a regulagem de altura do martelo for ajustada em 500 mm, isso não funciona, pois quando é aplicada a força de prensagem a ferramenta é comprimida e a estrutura da prensa é esticada. Teoricamente, não dá para saber qual será a regulagem de altura necessária.

 

O preparador precisa montar a ferramenta na prensa e ajustar, inicialmente, a altura do martelo com uma pequena folga, a fim de evitar um possível travamento ou quebra da ferramenta/máquina no PMI.

 

A partir daí, o preparador vai ajustando aos poucos a altura do martelo para baixo e fazendo os testes até que a peça estampada seja obtida com a qualidade desejada. É importante que a regulagem seja feita sempre para baixo. Se for necessário subir, passe do ponto e desça até o ponto desejado.

 

De forma geral, a regulagem de altura motorizada de uma prensa mecânica usada para a estampagem de metais tem uma precisão de 0,1 mm.

 

É primordial que antes de iniciar a regulagem de altura seja feita a regulagem de pressão do compensador de peso do martelo, para o peso da parte superior da ferramenta que foi fixada ao martelo, incluindo o peso de placas de adaptação, se houver. A não regulagem do compensador de peso é a causa principal de sobrecarga e quebras no sistema de regulagem de altura do martelo.

 

Se dois preparadores forem fazer a regulagem de altura da ferramenta, pode ocorrer a obtenção de alturas diferentes e as duas peças estampadas serem consideradas aceitáveis. Observem que “consideradas aceitáveis” não significa que as peças estampadas estão iguais e que não está havendo a repetibilidade do processo.

 

NOTA: A regulagem de altura para usar a ferramenta em uma determinada prensa só vale especificamente para esta prensa. Caso exista outra prensa igual, tem que ser feita uma outra regulagem. Desta forma, na folha de dados da ferramenta, deve ser inserido o valor de regulagem para referência, bem como dados da prensa a que se refere.

 

Vamos agora analisar os fatores externos à prensa.

 

 


 

 

A fim de manter a repetibilidade do processo, é importante ter um controle da qualidade do material a ser estampado como, por exemplo, dimensões das chapas e características do metal com relação à sua composição e resistência.

 

 

 


 

É importante executar a inspeção da ferramenta, em particular, avaliar a afiação, lubrificação e limpeza. E assim, controlando a qualidade da matéria-prima e tendo a ferramenta em bom estado, iremos evitar a ocorrência de variações na estampagem da peça e garantir que os parâmetros de regulagem da prensa se mantenham toda vez que for instalada a mesma ferramenta.

 

Após a regulagem de altura do martelo para obter a peça com a qualidade desejada, resta garantir que a regulagem esteja de acordo com as condições estabelecidas para todas as vezes que for utilizada a ferramenta em uma prensa específica. E aí entra mais um parâmetro: “força de prensagem”.

 

Mais informações serão fornecidas na segunda parte desta coluna.

 

 

 

 

 

*Pasqualetti Neto é engenheiro mecânico pós-graduado em Automação Industrial pelo Centro Universitário FEI (São Bernardo do Campo, SP). Sócio Proprietário da NATAL Treinamento e Consultoria – www.natal.eng.br.



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