Por Serhat Kaya e Taylon Altan*


 

Publicado em Corte e Conformação de Metais, edição de janeiro de 2010.


 

Durante o corte de blanques sob alta velocidade, a taxa de golpes da matriz e a velocidade do punção são maiores do que no corte convencional. Como resultado disso, a zona de cisalhamento apresenta maior taxa de deformação, o que afeta a temperatura da superfície cisalhada e a superfície do ferramental. O calor gerado na zona de deformação altamente localizada não se dissipa facilmente no material que está sendo processado. Isso provoca concentração de altas temperaturas na estreita zona de cisalhamento.

 


Artigo sobre corte fino de metais chega à sua terceira parte

Fig. 1 – Características geométricas da zona de cisalhamento

 

 

 

Deformações e altas temperaturas

 

Um dos benefícios do corte de blanques sob alta velocidade é o fato de que temperaturas de até 980 °C podem ser geradas na zona de cisalhamento, causando um efeito de liberação de tensões dentro do material. Pode-se até mesmo neutralizar o encruamento que ocorre devido à alta deformação localizada.

 

Devido à liberação de tensões, o material pode suportar uma grande quantidade de deformação até que a resistência ao cisalhamento seja excedida e ele frature. Como resultado disso, as tensões internas e fraturas relacionadas com a deformação são dramaticamente reduzidas. Contudo, essas vantagens variam conforme o material.

 

Por exemplo, o calor criado a partir do corte de blanques sob alta velocidade se dissipa de forma mais rápida no caso do cobre e do alumínio, em razão de sua maior condutividade térmica. São conseguidas condições de processo ideais para o corte de blanques sob alta velocidade quando o encruamento é reduzido por meio da liberação de tensões. Isso significa que a velocidade ótima de cisalhamento deve ser alta o suficiente para que ocorra a liberação de tensões, mas não tão alta que haja tempo suficiente para o alívio de tensões.

 

Estes efeitos melhoram a qualidade da borda da peça com a redução da altura da rebarba e da zona de rolamento, bem como o aumento do comprimento da zona de cisalhamento (dentro de certa faixa de velocidades). Cria-se menos distorção do que se observa em blanques produzidos sob menores velocidades. A figura 1 ilustra as características geométricas da zona de cisalhamento de uma peça obtida a partir de blanque.

 

Experimentos com o corte de blanques sob alta velocidade foram conduzidos no Centro para Conformação de Precisão da Ohio State University, usando-se chapas de aço-liga com baixo carbono, aço de alta resistência, cobre e alumínio. Esses experimentos foram conduzidos em uma prensa Lourdes 100-OH de alta velocidade, acionada eletromagneticamente (tabela 1).

 

 

Corte fino de metais é assunto de artigo técnico

 

 

Esta prensa é controlada em nove níveis de potência que aceleram o ferramental sob velocidades de até 3.655 mm/s. O ferramental mostrado na figura 2 consiste em um punção, botão de matriz e extrator feito de polímero. Todos os punções e botões de matriz eram feitos de aço rápido M2 e foram montados nos retentores com uma trava de esfera para rápido puncionamento e troca de matriz.

 

 

Fine blanking - Corte e conformação de metais

Fig. 2 – Esquema do ferramental usado no corte de
blanques

 

 

O extrator de polímero foi montado diretamente no punção e foi usado para extrair a chapa a partir do punção após o corte. A figura 3 mostra a altura de rebarba (mostrada na figura 1) versus a folga entre punção e matriz para diferentes velocidades de corte. Nos testes sob velocidade de corte de 152 mm/s a altura da rebarba foi de três a quatro vezes maior em comparação com o verificado para as velocidades de corte de 1.219, 2.743 e 3.658 mm/s.

 

 

Fig. 3 – Aço de baixo carbono sob diferentes velocidades do punção (1)

 

 

Também se observou que, no caso do aço de baixo carbono, o aumento da velocidade de corte para um nível acima de 1.219 mm/s não exerceu influência sobre a fração de comprimento de zona cisalhada (razão entre o comprimento da zona cisalhada e a espessura da chapa). A tabela 2 mostra o comprimento da zona de cisalhamento expressa como porcentagem da espessura da chapa e medições da altura de rebarba para aço de alta resistência, alumínio e cobre.

 


 

 

 

Aplicação da análise de elementos finitos

 

A simulação de processo usando a análise de elementos finitos oferece uma solução prática para problemas relacionados com o projeto e processamento de blanques sob alta velocidade, uma vez que este processo pode ser plenamente modelado e a deformação ocorre de forma virtual.

 

Foi usado o programa computacional Deform 2D, baseado no método de elementos finitos, para simular o processo. As simulações foram executadas de acordo com as seguintes condições:

 

 

• Aço de baixo carbono: foram assumidas as propriedades do aço AISI 1015 porque elas estão muito próximas das propriedades do aço de baixo carbono usado na prática. A espessura da chapa foi igual a 0,84 mm;

 

• Folgas entre punção e matriz: aproximadamente de 5 a 18% da espessura da chapa (diâmetros de punção: 12,4 mm e 12,6 mm; botão da matriz: 12,7 mm);

 

• Velocidades do punção: aproximadamente 152 mm/s e 3.658 mm/s;

 

• Condição não-isotérmica: as temperaturas se elevaram porque a deformação foi considerada;

 

• Condição de simetria axial: para poupar tempo de computação, foi modelada apenas metade da geometria em função da condição de simetria existente.

 

 

A figura 4 mostra uma comparação dos resultados da simulação e dos experimentos para o comprimento da zona de fratura. A diferença máxima foi de, aproximadamente, 7% da espessura da chapa, o que indica que a análise de elementos finitos previu razoavelmente bem a deformação da zona de cisalhamento.

 

 

Fig. 4 – Comprimento da zona da fratura versus velocidade do
punção

 

 

Esta é a última parte de uma série de três artigos sobre o desenvolvimento do processo de corte fino (fine blanking). As partes I e II podem ser conferidas na seção Tecnologia em conformação.


 

 

Referências

 

1) Gruenbaum, M.; Breitling, J.; Altan, T.: Influence of High Cutting Speeds on the Quality of Blanked Parts. Report Nº ERC/NSM-S-96-19. Engineering Research Center for Net Shape Manufacturing, The Ohio State University, 1996.

 

2) Yldrim, O.; Al-Zkeri, I.; Altan, T.: Determination of Critical Damage Value at High Strain Rate for AISI 1050 Using a Blanking Process – Results of experimental and numerical investigations. ERC/NSM Report No. HPM/ERC/NSM-03-R-11. The Ohio State University, 2003.


 

 

* Este estudo foi preparado por Serhat Kaya, pesquisador do Centro para Conformação de Precisão (Center for Precision Forming, CPF), da The Ohio State University, e Taylan Altan (www.ercnsm.org), professor e diretor da instituição. Este artigo foi publicado originalmente na seção R&D Updates do periódico norte-americano Stamping Journal e na edição de janeiro de 2010 da revista Corte e Conformação de Metais. Tradução e adaptação de Antonio Augusto Gorni. Reprodução autorizada.



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