Hellen Souza, da redação
“A indústria brasileira está sob ataque”. Assim foi descrita a ameaça que o alto índice de importação de produtos chineses representa hoje para o setor produtivo brasileiro. A declaração foi feita por Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil e coordenador da Coalizão Indústria, grupo que reúne 14 instituições representativas de 13 setores da indústria de transformação, construção civil e comércio exterior, em recente coletiva de imprensa. A Abiplast integra o grupo e foi representada pelo seu presidente, José Ricardo Roriz Coelho (foto).
A possibilidade de fechamento do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a China agrava essa perspectiva e poderá colocar em risco a projeção de investimentos de R$ 826 bilhões que o grupo traçou para o período de 2023 a 2027. A efetivação do acordo provocará a redução de 57% dos investimentos previstos.
Da siderurgia aos telefones celulares
O tom das declarações se justifica pelos dados de importações que cada um dos setores representados apresentou na ocasião, chamando a atenção para o volume preocupante de itens vindos da China. Foi verificado entre 2022 e 2023 um aumento de mais de 100% da entrada de produtos siderúrgicos pelo Porto de Manaus, e entre os meses de janeiro e agosto deste ano já foi registrado um índice 24,8% maior de importações do que no mesmo período do ano passado, contra 0,7% de aumento da produção interna.
No setor automotivo a situação é igualmente preocupante, com um aumento de 70% dos importados e de 35% dos emplacamentos desses veículos. Se considerado apenas o volume proveniente da China, chega-se a um aumento de 800% no período de janeiro a agosto de 2024, em comparação com o mesmo período do ano passado, com 339% mais emplacamentos. Dentre eles predominam os elétricos e híbridos, conforme destacou Márcio de Lima Leite, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
O setor de brinquedos sofre impacto semelhante, com uma queda da produção física de 14,7% no período de janeiro a agosto deste ano, contra um aumento de 18% nas importações, de acordo com Sinésio Batista, presidente da Abrinq, que projeta para este ano um índice de crescimento de apenas 1% em razão desse cenário.
Para o setor de eletroeletrônicos, enquanto as exportações cresceram 1%, as importações aumentaram 5,1%, uma situação agravada pelo mercado de telefones celulares, que amargou no primeiro semestre deste ano a cifra de 5,7 milhões de aparelhos comercializados de forma não oficial, vindos predominantemente do Paraguai, onde são praticados preços 40% inferiores aos do mercado oficial brasileiro. “Isso representa menos emprego no Brasil, menos pesquisa e desenvolvimento e também o risco para os consumidores, tendo em vista possíveis irregularidades relacionadas à frequência de operação, por exemplo”, avaliou Humberto Barbato, da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).
Prejuízos também para o setor de plásticos
José Ricardo Roriz Coelho, presidentre da Abiplast, destacou na ocasião o fato de o Brasil ter se tornado um bom destino para os produtos chineses por ainda estar aberto à sua entrada, enquanto muitos outros países já criaram formas de restringir a importação predatória.
Pressionados pelos preços dos insumos e a concorrência com os produtos chineses no mercado, os transformadores de plásticos enfrentam também os efeitos da recente aprovação do aumento de alíquota de importação para 30 produtos químicos, incluindo resinas termoplásticas.
Como os materiais plásticos estão presentes em muitos produtos, os prejuízos observados em setores como brinquedos e eletroeletrônicos também têm impacto sobre o setor, que ainda assim deverá fechar este ano com crescimento no índice de geração de empregos. De janeiro a julho foram criados 3.200 novos postos de trabalho, de acordo com Roriz. O crescimento das atividades ao final de 2024 está estimado em 2,5%.
Balança comercial ruim
Um dado avaliado pelo grupo foi o perfil e a qualidade da balança comercial Brasil-China, que é favorável ao Brasil em termos financeiros, mas é totalmente desfavorável para a indústria, em razão da histórica e recorrente exportação de produtos primários e importação de itens de alto valor agregado.
As medidas para a solução desse entrave, de acordo com a Coalizão, dependerão da vontade política que leve à tomada de decisões favoráveis à indústria nacional, como tem ocorrido em países que estão se blindando contra a agressiva política comercial chinesa.
Como agenda para o crescimento das atividades industriais, o grupo que representa a Coalizão Indústria (foto ao lado) defende a retomada do crescimento econômico pelo ajuste fiscal, a recuperação da competitividade sistêmica com o aumento do índice de formação bruta de capital (investimentos em produtividade) e ações que favoreçam a transição energética e a descarbonização das atividades industriais.
Integram a Coalizão Indústria as seguintes instituições: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos ( Abrinq), Associação Brasileira das Indústrias de Calçados ( Abicalçados),
Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Grupo FarmaBrasil, Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) e Instituto Aço Brasil.
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Imagens: Coalizão Indústria/Léo Martins
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