por Flávio Silva (*)
O mercado nacional de resinas termoplásticas de um modo geral vem sofrendo em 2025 com demanda fraca em diversos segmentos, e para o poli(cloreto de vinila) (PVC) não é diferente. De janeiro até junho a demanda foi 4,5% menor que a registrada no mesmo período em 2024 e 14% menor que a do primeiro semestre de 2023. Somente por esses números já se percebe que 2025 não está sendo um ano bom para os produtores e transformadores locais.
No Brasil existem dois produtores locais de PVC: a Braskem, com 710 mil toneladas por ano (kta) de capacidade e a Unipar, com 300 kta de capacidade. Em 2024 a demanda anual de PVC foi da ordem de 1,2 milhões de toneladas e, deste total, quase 46% foram importadas. Ou seja, a demanda é maior que a oferta e mesmo assim os players locais estão com ociosidade nas suas unidades, o que indica falta de competitividade em relação ao produto importado.
Analisando mais detalhadamente as importações de PVC, o gráfico abaixo mostra que Colômbia e Estados Unidos foram os principais fornecedores nos anos recentes, junto com a Argentina (via unidade da Unipar). Enquanto isso, a participação do Egito vem crescendo devido ao acordo Mercosul/Egito (ALC – Acordo Livre Comércio via Decreto nº 9.229 de 6 de agosto de 2017), que concede isenção da tarifa de importação para produtos do Capítulo 39 da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), o qual contempla as resinas termoplásticas.
Distribuição das importações brasileiras de PVC (%). Fonte: COMEX STAT e elaboração da Ohxide Consultoria
Observando o gráfico acima, fica nítida a evolução das importações dos Estados Unidos para o Brasil e como o Egito passou a ser uma opção desde 2020, crescendo bastante em 2024. Em termos de volume absoluto, a quantidade de resina PVC importada passou de 353 mil toneladas em 2018 para mais de 580 mil toneladas em 2025, um aumento de 64% em sete anos, com um pico de 597 mil toneladas em 2021.
O recente aumento da tarifa antidumping imposto às importações oriundas dos Estados Unidos impactou ainda mais o mercado, em relação à disponibilidade e aos preços das resinas. Sobre tarifa antidumping, o que está válido hoje é:
Antidumping definitivo contra Estados Unidos e México (NCM 3904.10.10) atualizado em 29/05/2025 e válido até 19/09/2027 através da Resolução CAMEX nº737/2025, com as seguintes alíquotas: EUA = 43,7% e México = 13,6%. A alteração foi apenas para os EUA e a cobrança para o México foi suspensa;
Antidumping definitivo contra a China (NCM 3904.10.10) atualizado em 27/09/2021 e válido até 14/08/2025 através da Resolução CAMEX nº 255/2021, com a alíquota de 21,6%. Este processo pode ser renovado na próxima reunião do Comitê Executivo de Gestão (GECEX) da Câmara de Comércio Exterior (Camex).
Dois pontos importantes impactaram o mercado e os preços no Brasil. O primeiro foi o aumento da alíquota dos Estados Unidos que ocorreu em final de maio e já trouxe movimentação ao mercado. O segundo é o possível fim da alíquota da China, agora em agosto, que pode abrir espaço para outra origem de importações. O gráfico abaixo mostra a evolução do volume das importações de PVC, com nítido reflexo do aumento de alíquota para os Estados Unidos após maio.
Importações brasileiras de PVC (mil toneladas). Fonte: COMEX STAT e elaboração da Ohxide Consultoria
O volume importado dos EUA reduziu pela metade em julho, enquanto o volume originário do Egito dobrou no mesmo período. Esta deve ser a tendência para os próximos meses. O ponto de atenção é até quanto o Egito terá disponibilidade de produto. Atualmente, alguns traders já reportam dificuldade de obtenção de material oriundo daquele país.
Dado este cenário complexo de demanda, oferta e importações, é importante entender como tudo isso impacta os preços locais. É relevante analisar os preços internacionais que norteiam os preços locais, uma vez que o Brasil é price taker (tomador ou seguidor de preço) para o PVC.
Os preços internacionais estão com tendência de queda mais acentuada nos Estados Unidos. Em janeiro estavam no patamar de 720 dólares/ tonelada na Ásia e 690 dólares/ tonelada nos Estados Unidos. Desde então os preços vêm em queda, com uma subida em junho devido à alta dos fretes. Porém, este efeito se encerrou no final de julho e em agosto o preço na Ásia e nos EUA estão menores em 4% e 9%, respectivamente, na comparação com o preço em janeiro. Esta tendência corrobora os preços das importações brasileiras, que são mostrados no gráfico abaixo.
Preços CIF (custo, seguro e frete) do PVC praticados nas importações brasileiras (US$/ton). Fonte: COMEX STAT e elaboração de Ohxide Consultoria.
Os preços de importação de todas as frentes, com exceção da Argentina, apresentaram quedas até julho. A Argentina, devido a ser a Unipar atuando diretamente no mercado nacional, “controla” as variações para chegada de resina no mercado.
Mesmo com estes efeitos, após o anúncio do aumento da alíquota antidumping, os produtores locais e muitos traders anunciaram aumentos de preço no mercado nacional. O gráfico a seguir mostra evolução.
Preços do PVC no mercado nacional. Fonte: Ohxide Consultoria - pesquisa mensal de preços (preços net)
O preço médio no mercado nacional, contrariando a tendência externa, teve trajetória diferente em junho e julho, com aumentos da ordem de 5% e 4%, respectivamente, e reduzindo em relação ao mês de janeiro apenas 2%.
Isso mostra o poder de concentração que os produtores têm no mercado local. Os anúncios de aumentos foram até maiores mas, ao longo do mês, como a demanda não está forte, estes aumentos foram cedendo para patamares menores. É importante ressaltar que nestes últimos meses o câmbio esteve estável, o que não gerou impacto nos preços em reais.
O preço médio em agosto já considera uma pesquisa de mercado feita nas primeiras semanas e está ligeiramente mais alto que o de julho, com tendência de redução para setembro, em um patamar que pode ser até maior que o apontado no gráfico.
Com a provável redução do volume importado dos Estados Unidos, outras frentes de importação tendem a crescer em representatividade, como Taiwan e Egito. Isto pode “ajudar” a reduzir o preço. A tendência que vemos no momento é de redução até o final do ano, acompanhando o cenário internacional. Porém, players locais tentarão manter o preço no patamar atual. Com o encerramento do prazo para a tarifação antidumping contra China, caso ela não seja renovada (pouco provável, na nossa visão), abre-se a oportunidade para outra frente de importação.
*Flávio Silva é sócio-diretor da Ohxide Consultoria (Rio de Janeiro, RJ e Paulínia, SP)
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Imagem de abertura: Praethip Docekalova / Shutterstock
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