De acordo com dados de Omnexus, plataforma de inteligência voltada para o setor de plásticos, o polipropileno (PP) é hoje o segundo polímero mais produzido no mundo, depois do polietileno. A produção global de PP estaria hoje em torno de 56 milhões de toneladas métricas (dados de 2018), com uma projeção de 83 milhões de toneladas até 2025, uma taxa de crescimento anual de 5,85%. Já o mercado de bens produzidos a partirdo PP no período em análise foi de US $ 97 bilhões, com previsão de atingir US $ 147 bilhões em 2025, o que representa um crescimento anual de 6%

Ao que tudo indica, a tempestade que se abateu sobre a economia mundial com a chegada da pandemia de Covid-19 não abalou essa projeção. Muito pelo contrário, o mercado enfrenta hoje escassez de material e estaria pronto a absorver aumentos expressivos da produção mundial.


Recipientes feitos em PP reciclado inserem as controversas cápsulas de bebidas quentes no contexto da economia circular
 

Ainda de acordo com o relatório, o setor de embalagens representa mais de 30% da demanda global de PP. Outros usos finais incluiriam a fabricação de equipamentos eletroeletrônicos, ambos com aproximadamente 13% cada; eletrodomésticos e automotivos, ambos consumindo 10% cada; materiais de construção com 5% e aplicações muito diversificadas representando os 5% restantes.

No Brasil, a Associação Brasileira dos Distribuidores de Resinas Plásticas (Adirplast) vinha registrando constantes aumentos do volume de vendas desse material entre os seus associados. Em 2017 foram 94, 2 mil toneladas comercializadas; em 2018 foram 99,4 mil e em 2019, 99,3 mil toneladas. O crescimento era expressivo até o fatídico 2020, quando o volume de vendas declinou para 91,8 mil toneladas, mas a projeção para 2021 é de demanda crescente, com a escassez ainda rondando o mercado de perto devido a questões associadas à pandemia.

De acordo com Laércio Gonçalves, presidente da Adirplast, historicamente o PP sempre apresentou oferta menor do que a demanda, e não é diferente na atualidade, tendo em vista a produção local insuficiente e dificuldades de obtenção junto a players internacionais.


Fazer o PP reciclado adquirir características de material virgem é o desafio da PureCycle
 

Sustentabilidade e impressão 3D: o PP segue tendências

Oscilações de mercado à parte, as grandes fabricantes de resina têm o PP entre seus planos quando o assunto é desenvolvimento tecnológico. Esses esforços têm em vista ampliar o espectro de aplicações possíveis para o material, que tem protagonizado iniciativas em áreas como a reciclagem e a impressão 3D, atuais tendências na indústria.

A Sabic, petroquímica de origem saudita com unidade em São Paulo (SP), por exemplo, desenvolveu uma linha denominada Trucircle, composta por PP reciclado pós-consumo, cuja certificação validou o seu uso até mesmo em cápsulas transparentes dos chás orgânicos (foto a seguir) da Avoury One, representando um avanço da indústria em relação a um futuro mais sustentável para esta forma prática, mas controversa, de se consumir bebidas quentes.

O modelo adotado prevê que a Avoury disponha de um sistema de retorno das embalagens junto ao consumidor. Ao solicitar novos chás, o cliente pode requisitar um saco próprio da marca para descarte das cápsulas vazias. Quando cheio, basta colar a etiqueta de retorno e enviar à empresa gratuitamente. Dessa forma, a companhia pode reciclar novamente esse material, uma vez que mantém a confiabilidade da estrutura do material por saber qual a sua origem.

A norte-americana PureCycle tem estabelecido desde 2019 parcerias com alguns players do setor de embalagens e de aditivos para a recuperação do PP visando restaurar as suas propriedades de modo que ele se compare ao material virgem. A Nestlé e a Procter & Gamble (P&G) se engajaram no projeto e adotaram a tecnologia com o objetivo de alcançar suas metas de sustentabilidade, que incluem o uso de materiais recicláveis e reciclados nas suas embalagens.

O processo de reciclagem patenteado da PureCycle foi desenvolvido e licenciado pela P&G e consiste na separação por cor e eliminação de odor e outros contaminantes dos resíduos para transformá-los em resina plástica semelhante à virgem. A Milliken, cujos aditivos têm um papel fundamental na reconstituição do PP reciclado, estabeleceu contrato de fornecimento exclusivo com a PureCycle para tornar o material recuperado puro a ponto de receber a denominação UPRP, sigla em inglês para PP reciclado ultrapuro.

A Nestlé trabalha junto com a PureCycle para desenvolver novos materiais de embalagens que ajudem a prevenir a geração de lixo plástico, de acordo com o compromisso da empresa de tornar 100% de suas embalagens recicláveis ou reutilizáveis até 2025.

Com a tecnologia licenciada da P&G, a PureCycle construiu sua primeira planta industrial em Lawrence County, no estado de Ohio (EUA), com o objetivo de reciclar cerca de 54 mil toneladas de PP por ano, já a partir de 2021. É a primeira empresa com foco único na recuperação total do material, que será destinado a aplicações em produtos de consumo altamente sensíveis, tais como embalagens de alimentos e bebidas, interior de automóveis, eletrônicos, mobiliário e muitos outros produtos.

Um levantamento divulgado pela PureCycle informa que o mercado global do PP está estimado em mais de US $80 bilhões, de acordo com pesquisa da Transparency Market, e deve alcançar US $133 bilhões em 2023. A Associação de Recicladores de Plástico dos Estados Unidos já teria identificado uma demanda de mais de 450 mil toneladas de PP reciclado apenas na América do Norte. A maior parte dessa procura é de material de alta qualidade, de acordo com a entidade.

A Braskem, em parceria com a norte-americana Agilyx, deu início este ano a um projeto de reciclagem de resíduos mistos que darão origem a um novo grade de PP, usando a tecnologia de reciclagem química desta última. Serão processados resíduos plásticos misturados obtidos por meio da Cyclyx, divisão de gerenciamento de matéria-prima da empresa.


Grade de PP da Braskem para manufatura aditiva garante a obtenção de peças funcionais
 

“Esta colaboração visa um novo caminho de produto para a Agilyx, convertendo resíduos plásticos mistos em blocos de construção químicos usados para produzir polipropileno”, disse Tim Stedman, CEO da Agilyx, em um comunicado.

Este é o segundo anúncio recente da Braskem sobre um projeto de reciclagem de PP nas Américas. Também no início deste ano, a empresa anunciou planos de inauguração de uma nova planta de reciclagem de produtos químicos em 2023, tendo a texana Encina como fornecedora de matéria-prima, também envolvendo PP.

A brasileira apostou também em outra forte tendência atual na indústria: a manufatura aditiva. No final do ano passado, colocou no mercado um grade especial de PP voltado para a fabricação de filamentos destinados à impressão 3D. Recicláveis, com boa resistência ao impacto e estabilidade dimensional, os PPs da nova linha são fornecidos na forma de grânulos ou já como filamentos, ambos produzidos no Brasil, e também em pó, importado dos Estados Unidos. Os produtos podem ser utilizados tanto em impressoras 3D industriais como em máquinas do tipo desktop.

Os filamentos, disponíveis nos diâmetros de 1,75 e 2,85 mm, foram desenvolvidos tendo em vista o melhor balanço de propriedades mecânicas, estabilidade dimensional e desempenho em impressão para os usuários. Já o pó de PP, voltado para o processo de sinterização seletiva a laser (SLS), é resultado de parceria da empresa com a ALM (Advanced Laser Materials), subsidiária da EOS América do Norte, e se destaca pelo desempenho mecânico, estabilidade dimensional das peças impressas e altas taxas de reúso do pó remanescente no leito de impressão ao final de cada ciclo.

O produto na forma de grânulos foi desenvolvido em colaboração com a Titan Robotics, com foco na plataforma Atlas de impressão 3D por extrusão de grânulos em escala industrial.


Material da Braskem dá origem a espumas de diferentes densidade

 

Compostos de PP são material-chave na transição para a mobilidade elétrica

No meio automobilístico, a transição para veículos elétricos híbridos e elétricos, embora ameace algumas aplicações típicas do ambiente do motor a combustão, está criando novas oportunidades importantes para os compostos de PP, relacionadas especialmente à redução de peso e gerenciamento do uso de energia.

O material tem trazido segurança para os fornecedores de materiais e para as empresas de transformação especializadas no seu processamento, com a possibilidade de continuar presente na fabricação de componentes com baixa densidade, mas que concorrem em igualdade de condições com materiais desenvolvidos para aplicações semi-estruturais.

O relatório The Global Market for PP Compounds (O mercado global para compostos de PP), publicado no final de 2020 pela empresa de consultoria britânica para o setor de plásticos AMI Consulting, revelou boas perspectivas para o mercado de compostos de PP, apesar da desaceleração desencadeada pela Covid-19.

O estudo segmenta o mercado por região, família de produtos e aplicação. Dentro do setor automobilístico, que é o maior mercado para o produto, as aplicações são divididas em interiores, exteriores e sob o capô.

O relatório quantificou a demanda de compostos PP por OEM (fabricante de peças originais), além de fornecer uma análise da estrutura de fornecimento da indústria e dos maiores produtores mundiais do material, revelando que grande parte dos aportes feitos mais recentemente pelos fornecedores desses compostos já antecipavam as tendências de fabricação de seus principais clientes.

Outra revelação do estudo é que, embora tenha havido queda do nível de atividade em 2019, alinhada com o enfraquecimento da demanda do mercado que se seguiu em 2020, empresas como Borealis/Borouge, Celanese, GS Caltex, Kingfa, LyondellBasell, Advanced Composites, Mitsui e Sabic têm planos de ampliação para suas linhas de fabricação do composto.

 

Resistência e leveza nos materiais expandidos

Parte das apostas dos fabricantes do PP se concentram nos grades passíveis de serem processados por expansão, o que permite combinar as boas propriedades do material com a leveza que o processo proporciona. A questão a ser resolvida neste caso é garantir que o polímero tenha uma boa resistência no estado fundido, mantendo sua integridade e estabilidade durante o processo de formação das bolhas de ar.

Construção civil, mercado automotivo, embalagens e utensílios domésticos são usos potenciais para esse tipo de composto.

Para este mercado, a Braskem possui o grade Amppleo 1025MA, de alta resistência no estado fundido, especialmente desenvolvido para a produção de espumas de alta performance. O material é capaz de suportar temperaturas de até 100 °C sem deformar e permite a fabricação de espumas dentro de uma escala de densidades que vai de 35 kg a 300 kg/m3, apresentando redução de peso frente a outros materiais, além de isolamento térmico e acústico.

A Borealis também possui sua linha de PPs destinados à fabricação por expansão, denominada Daploy HMS, com alta resistência à fusão e com densidades que vão de 40 a 600 kg/m3, o que permite fabricar desde embalagens até mantas de isolamento destinadas à construção civil. A empresa se especializou no desenvolvimento deste tipo de PP e dispõe de um manual online a respeito do processo de espumação.


Aplicação em copos descartáveis do grade de PP Daploy da Boreali
 

A versão da Sabic para o mercado de PP de alta resistência à fusão, para processos de expansão, é o PPUMS HEX17112, com densidade de até 905 kg/m3 , desenvolvido para atender às especificações de mercados como automotivo, de embalagens e a área médica.


Mercado de autopeças leves é um dos alvos da Sabic com o PP desenvolvido para moldagem com expansão
 

A diversidade de aplicações para os compostos de PP aparentemente assegura que o material estará presente oferecendo soluções de projeto para novos desafios que são impostos a cada dia. Seja em termos de resistência, leveza, flexibilidade de adaptação ou desempenho, o esforço no desenvolvimento de novas aplicações dá a entender que muito está por ser proposto para esse versátil polímero.

Para saber mais sobre as suas características técnicas, acesse a seção Matéria-prima no site da revista Plástico Industrial: https://www.arandanet.com.br/revista/pi/noticias/15.

Consulte também o guia de fornecedores de resinas (https://www.arandanet.com.br/revista/pi/guia/475-Resinas-termoplasticas-commodities-e-plasticos-de-engenharia), onde podem ser localizados desenvolvedores e distribuidores do material.


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