P. S. Martins, J. R. G. Carneiro, A. B. C. França, L. Dutra e P. P. Brito
Data: 05/07/2017
Edição: MM Junho 2017 - Ano - 53 No 617
Compartilhe:As ligas de aluminío são constantemente utilizadas em razão da sua reistência mecânica e baixa densidade, além da usabilidade. A adição do silício ao alumínio decresce o seu ponto de fusão e melhora a resistência ao desgaste do componente. As ligas Al-Si, por exemplo, são usadas na fabricação de componentes de motores de combustão, que exigem fluidez e baixa tendência de contração, as quais são alcançadas nos processos de fundição sob pressão.
Para a produção de uma peça em Al-Si, tal como um cabeçote de motor, diversas operações de usinagem são empregadas, dentre as quais furação, alargamento, rosqueamento, mandrilamento, fresamento e lavagem. Posteriormente, o acabamento é feito, neste caso, sem a necessidade de retificação ou polimento. Devido à boa condução de calor da liga Al-Si, as forças de corte usadas e a taxa de desgaste da ferramenta são consideradas baixas[3].
Estima-se que em torno de 15% a 20% de todo o aço produzido no mundo seja transfor mado e removido por usinagem na forma de cavaco. A usinabilidade de um material é definida como uma tecnologia comparativa, ou seja, que expressa, por meio de um valor numérico, o confrontamento de um conjunto de propriedades de usinagem [5]. Este indicador pode ser obtido levando em consideração o número de componentes produzidos por hora, o custo de produção do componente ou a qualidade final da superfície trabalhada[14].
O processo de usinagem é não linear, envolvendo fenômenos como deformação plástica, fratura, impacto, pontos de contato intermitentes e desgaste. Caracteriza-se, ainda, pela geração de calor e elevada temperatura de corte. Em razão da complexidade do procedimento, muitas vezes não é possível obter uma descrição matemática da sua dinâmica, o que pode ser superado por meio do uso de sensores de medição.
Em altas temperaturas, a ferramenta de corte pode perder a sua forma rapidamente ou sofrer desgaste, resultando no acréscimo da força de corte, baixa exatidão dimensional do produto, redução da vida útil, dano mecânico e químico da superfície acabada. Essa elevada temperatura pode ser controlada por injeção de fluido lubrificante e refrigerante na interface cavaco-ferramenta. Dentre os processos de usinagem tradicionais, a furação é uma das operações de corte de metal mais importantes, consistindo em 33% de todas as operações de usinagem, e responsável por aproximadamente 40% de toda operação de remoção de metal na indústria aeroespacial[6].
O grau de calor na interface cavaco-fer ramenta tem uma influência impor tante no desgaste da ferramenta e na microestrutura da região de deformação. A temperatura cresce com o aumento da profundidade do furo para a mesma velocidade de avanço e do eixo [11]. Outra teoria é que seu valor máximo na face de corte da broca é uma função crescente da velocidade de corte e de avanço[8].
A medição é empregada, neste caso, para monitorar, controlar ou investigar o processo, sendo que o resultado alcançado é uma faixa de valores associada a uma unidade de medida, sendo o valor verdadeiro compreendido nesta. A qualidade, a segurança e o controle de um processo são assegurados pela medição. As imperfeições contidas em uma superfície podem ser mensuradas com equipamentos apropriados e a importância do acabamento superficial aumenta quando a precisão de ajuste entre as peças sobe.
Deve-se salientar que as superfícies reais de engenharia são compostas de forma, ondulação e rugosidade, podendo ser filtradas em cinco estágios. Os desvios de forma das superfícies reais, com relação aos parâmetros macro e micrométricos, são, respectivamente, circularidade, cilindricidade e rugosidade. A rugosidade média (Ra) pode ser vista como o desvio médio de um perfil da sua linha ou a distância média de um perfil desde sua linha média sobre um comprimento médio[10].
A velocidade de corte, avanço e profundidade são, respectivamente, indexadas por vc, fn e ap – as variáveis mais importantes neste processo. A velocidade de corte (vc) é a velocidade instantânea do ponto de referência da aresta da ferramenta, segundo a direção e sentido de corte. Para os processos com movimento de rotação, a velocidade de corte é calculada na equação 1.
O diâmetro da peça (mm) ou da ferramenta (N) corresponde ao número de rotações por minuto. O avanço (fn) é o percurso em cada rotação (mm/rot) ou em cada curso da ferramenta. A profundidade de corte (ap) é a profundidade ou a largura de penetração da ferramenta na peça, medida numa direção perpendicular ao plano de trabalho (NBR6162/1989). Na furação com brocas helicoidais, os esforços atuantes estão ligados à geometria da broca e às condições de corte do processo, tais como avanço, velocidade de corte e rigidez do conjunto peça/máquina-ferramenta[2].
O uso da ferramenta de aço rápido está limitado à baixa velocidade de corte relativa, na qual este parâmetro é inferior à velocidade econômica de corte dos materiais de ferramentas mais resistentes[13]. No desenvolvimento do próprio aço rápido, é reconhecido que somente a adoção de um método de modificação da superfície e do revestimento da ferramenta pode alcançar qualquer melhoria signifi cativa.
Foi avaliada a aplicação de cinco categorias diferentes de DLC, para brocas de aço rápido em usinagem de alumínio, sem o uso de fluido de corte para remoção do cavaco[4]. O alumínio é particularmente difícil de usinar a seco, por causa da sua aderência na ferramenta em altas temperaturas.
Na furação, a medição do desgaste não é importante somente nos seus estágios finais, que precedem falhas catastróficas, mas também por meio da vida da broca. O progresso do desgaste de flanco na furação segue um modelo de três estágios. No primeiro, o desgaste resulta em rápida elevação já nos primeiros segundos de corte, ao passo que no segundo essa taxa é constante. No último estágio, o desgaste avança por um mecanismo adesivo, em uma taxa que é linear com o tempo de cor te (figura 1, pág. 42)[12].
O aquecimento para a têmpera do aço VK5 é feito em banho de sal fundido. Inicialmente, realiza-se um aquecimento preliminar até 500oC em forno aberto ou dotado de circulação forçada de ar, para a eliminação da umidade e dos resíduos de óleo ou outros contaminantes. Em seguida, as peças são removidas para um banho de preaquecimento, mantido a cerca de 860°C a 880oC, onde permanecem até a equalização da temperatura.
No caso de peças de grandes seções e geometrias complexas, recomenda-se mais uma etapa de preaquecimento a cerca de 1.050oC[15].
Este trabalho avaliou o desempenho da broca VK5 quanto à resistência ao desgaste, sendo usada na furação de peças em ligas de Al-Si, em velocidade de corte de 340 e 380 m/min.
A matéria-prima utilizada neste trabalho é uma liga Al-Si obtida em fundição sob pressão, na forma de placas retangulares. Foi fundido um corpo de prova representativo da corrida, o qual foi posteriormente fresado e cortado para a retirada de amostras de 30 x 30 mm, para análise química e metalográfica. Elas foram analisadas em um microscópio óptico da Leitz, com capacidade de aumento de 200 vezes.
Para a análise de sua microestr utura, as amostras foram atacadas com água destilada com volume de 95%, ácido fluorídrico HF-1 ml, ácido nítrico-HNO3 -2,5 ml e ácido clorídrico-HCl-1,5 ml, durante cinco horas. Foi realizado um ensaio de microdureza Vickers em um aparelho da Leitz, com carga de 100 gf. A tabela 1 (pág. 47) mostra a composição química da liga Al-Si fundida sob pressão em lingotes.
A utilização do cobre melhora a usinabilidade das peças injetadas, facilitando ainda sua solidificação em temperaturas mais baixas e reduzindo descontinuidades internas na peça fundida. A presença do fer ro nas ligas Al-Si é considerado um fator de fragilização, reduzindo o tempo de desmoldagem. A microestrutura consistiu de fase alfa rica em alumínio e o eutético.
A fase intermetálica do eutético é Al5Cu2Mg2Si6 ou Al15(FeMn)3Si2. O teor de silício da liga significa que ela contém partículas primárias, que promovem desgaste da ferramenta por mecanismo de abrasão quando comparado a outras ligas de alumínio (figura 2, pág. 44).
Foram utilizadas brocas de VK5 com haste paralela, tolerância de 12,20mm ângulo de ponta a 145o e ângulo de folga a 10o, montadas em um mandril hidráulico (figura 3, pág. 44).
As velocidades de corte aplicadas foram de 334 e 380 m/min, enquanto a rotação foi de 8.800 a 1.100 rpm, o avanço de 0,36 mm/ rot e a profundidade de corte de 6,1 mm, considerando-se que a broca tem diâmetro nominal de 12,2 mm. Os ensaios realizados com ligas de alumínio e alargadores monocortantes não apresentaram variações de rugosidade, er ros de for ma ou equívocos dimensionais do furo com a variação da velocidade de corte.
O fluido de corte utilizado foi o Hocut B 205D, com a concentração de 6% a 8% em volume de água e 30 bar de pressão. Enquanto isso, os furos tinham 8 mm de profundidade. Após os testes de furação, as peças foram resfriadas até a temperatura ambiente e medidas no laboratório de metrologia.
Foram retiradas as peças de número 1, 150, 300, 450, 600, 750, 900, 1.050 até 3.100, para a medição dos parâmetros geométricos de cilindricidade, circularidade e diâmetro do furo, respectivamente, nos equipamentos Talyrond 4, Coord Her A e Hera 3 Coord. Foi medido também o erro de batimento para o sistema hidráulico, nesta mesma sequência.
Os parâmetros de superfície Ra, Rz e Rtforam avaliados para as peças 1, 150, 300, 450, 600, 750, 900, 1.050 até 3.100, utilizando-se um equipamento da Taylor Hobson (Form-Talysurf series) e um filtro gaussiano para análise de aspereza com cut-off de 0,8 mm e comprimento de 4,8 mm. A tolerância de 3,2 μm (Ra) da superfície do furo foi controlada por um software desenvolvido especificamente para esta análise.
A figura 4 (pág. 46) mostra a evolução da cilindricidade dos furos com o número produzido pelas brocas de aço VK5. Os valores médios deste parâmetro entre as velocidades de corte mostram que as dispersões são semelhantes nos pontos 500 e 1.200, para velocidade de corte em 380 m/min.
Os demais valores foram abaixo de 0,02 μm, em comparação aos valores obtidos a 340 m/min. A média geral de cilindricidade para 340 m/min foi de 0,019 μm e para 380 m/min foi de 0,018 μm.
A figura 5 (pág. 47) mostra a evolução da circularidade em função do número de furos para brocas VK5, além dos valores médios e dispersão obtida na circularidade dos furos produzidos com as velocidades determinadas (340 e 380 m/min). A média dos valores para duas velocidades manteve-se linear, mas o desvio padrão para 340 m/min foi maior entre as peças enumeradas como 1.000 a 2.200.
A figura 6 (pág. 48) mostra a evolução da textura da superfície, em função do número de furos usinados.
Os valores médios e a dispersão da superfície analisada (Ra, Rt e Rz) para as velocidades de corte de 340 e 380 m/min apresentaram variações acentuadas de furo para 0, 2, 3 e 4 μ m. Percebe-se que o valor médio da rugosidade obtida a 340 m/ min foi maior, quando comparada com a outra velocidade (380 m/min).
Os valores médios e a dispersão da superfície analisada (Rt e Rz) para os dois tipos de velocidade apresentaram comportamentos diferentes entre os furos de número 1.500. A partir do furo 1.750, a rugosidade média dos parâmetros Rt e R z aumentou para as duas velocidades de cor te, o que se dá pelo desgaste gerado na aresta de corte.
A figura 7 (pág. 50) apresenta a evolução do diâmetro dos furos com as peças de número 1 a 3.100, nas duas velocidades de corte (340 e 380 m/min), mostrando diferença significativa. É possível justificar este resultado pela natureza do desgaste que ocorre no flanco da broca e também na adesão deste material à broca. Para este número reduzido de furos, a adesão é física e não química, o que torna a retirada do material facilitada ao longo do processo de usinagem.
Nela nota-se a presença da aresta postiça de corte (APC) – fenômeno que ocorre ao longo do processo de usinagem, principalmente em baixas velocidades. No ponto a, foram demarcados os três pontos de análises, sendo os pontos 1b e 2c na análise em EDS, no microscópio eletrônico de varredura (MEV).
Observa-se a presença de APC aderido na aresta de corte. Já no ponto 3d, percebe-se a presença de elementos da broca VK5 em maior proporção. A figura 9 (pág. 52) traz a análise da superfície da broca utilizada na velocidade de 380 m/min, após a usinagem de 1 a 2.100 peças.
Com o aumento da velocidade de corte para 380 m/min, a presença da APC foi menor na aresta principal de corte no ponto a, quando foram marcados os três pontos de análise. No ponto 1b, aparecem valores menores de Al-Si, em comparação ao ponto 1b da figura 8. Para os pontos 2c e 3d, os valores foram semelhantes.
Os valores de cilindricidade e circularidade comportaramse de forma semelhante com o aumento dos parâmetros de corte (velocidade de corte). A média e o desvio padrão dos valores responderam mais positivamente na velocidade de corte de 380 m/min, o que se dá pelo fato da aresta de corte da broca percorrer em um menor tempo de contato com a parede do furo.
Parâmetros de super fície (Ra, Rt e Rz) obtiveram médias semelhantes, sendo que a 380 m/min foram obtidas somente 2.100 peças, pois com essa velocidade os valores dimensionais dos furos foram reduzidos.
A altas velocidades, os valores de diâmetros foram piores. Em comparação com a baixa velocidade, esse fenômeno ocorre devido ao aumento do atrito da aresta da ferramenta ao material usinado.