Pela primeira vez em 20 anos, a Furukawa Electric LatAm, multinacional japonesa especializada em soluções de comunicação, divulgará um resultado negativo no período fiscal de abril de 2023 a março de 2024. Os números oficiais devem ser publicados nos próximos dias, mas a diretoria da empresa já adiantou que a queda será acima de 30% na receita em relação ao ano fiscal anterior, que foi de R$ 2,2 bilhões.

“O prejuízo só não foi maior graças às vendas externas”, disse Foad Shaikhzadeh, CEO da Furukawa Electric LatAm, durante a coletiva de imprensa no Furukawa Summit 2024 – Edição dos 50 anos, evento para clientes e parceiros realizado em Alexânia, GO, no período de 15 a 18 de maio. A estagnação do mercado de banda larga, as incertezas econômicas no país e a concorrência com a China estão entre os principais motivos do balanço negativo. O último prejuízo do grupo tinha sido registrado em 2003, ainda como reflexo do estouro da bolha da Internet do ano 2000.

“O Brasil está recebendo nos últimos dois anos toda a sobrecapacidade chinesa de fibra óptica. A capacidade total de produção mundial é da ordem de 600 mil km. A China sozinha produz cerca de 400 mil km, mas com a desaceleração do mercado interno, a demanda de fibra naquele país caiu para menos de 200 mil km. A sobra começou a ser mandada para o mundo inteiro”, afirmou. Como reação, os mercados internacionais logo lançaram medidas de proteção, em especial a Europa, que aumentou as alíquotas de importação ao produto em até 75%, e EUA, que proibiu a entrada de produtos chineses.

“A fibra da China foi para onde não havia nenhuma restrição, como o Brasil. Isso acabou canibalizando a produção local”, disse o CEO. Enquanto o quilômetro da fibra é negociado por indústrias locais por valores entre US$ 5 a US$ 6, os players chineses vendem o produto por US$ 2,5 a US$ 3. A italiana Prysmian, dona da única fábrica completa de fibras ópticas da América Latina (preforma e fibra), ameaça fechar a unidade de Sorocaba, SP, até julho se o governo Lula não criar barreiras contra a importação chinesa. Junto com a Prysmian, a Cablena e Furukawa, que também compram as fibras nacionais, denunciaram ao governo abusos da política de incentivos nas exportações de cabos ópticos entre 2021 e 2022.

Com fábricas no Brasil, Argentina e México, a Furukawa LatAm emprega cerca de 2000 colaboradores, dos quais quase 190 estão diretamente envolvidos com P&D. Além deles, atua com cerca de 80 profissionais em ICTs – Instituições de Ciência e Tecnologia, como CPQD e Instituto Eldorado, por conta da Lei de Informática, que oferece incentivos fiscais para empresas de tecnologia que investem em mão de obra, pesquisa e inovação. “Temos um ecossistema completo atuando com desenvolvimento”, disse Hélio Durigan, vice-presidente de Operações da Furukawa Electric LatAm. Embora o grupo japonês tenha produção de preforma no exterior, com o encerramento das atividades da fábrica da Prysmian no Brasil, a importação teria impacto no PPB – Processo Produtivo Básico, que inclui o material como componente nacional. “Por isso o governo precisa definir uma política industrial clara o quanto antes”, afirmou Durigan.

Na pandemia, o setor de telecom chegou a representar dois terços da receita total da empresa. Em 2023, da queda de 30% nas vendas da Furukawa LatAm, 80% refere-se ao mercado de telecom. Não apenas grandes operadoras, mas também provedores de Internet pararam de investir devido à saturação e ociosidade das redes – em alguns casos, a taxa de ocupação está abaixo de 10% a 15%.

“A queda na receita só não foi maior porque nós exploramos outros países. Em algumas regiões, como países da América Central, a infraestrutura está alguns anos atrasada em relação ao Brasil. Temos diversos projetos em andamento no México, Colômbia, Peru e Chile, tanto de telecom como para a interconexão de data centers”, disse Celso Motizukui, gerente geral da Furukawa Electric LatAm.

Apesar da desaceleração dos negócios, ainda há muitas oportunidades a serem exploradas. Com o fim da pandemia, os profissionais voltaram para os escritórios, demandando atualização das redes e data centers. Os provedores, que passaram por um processo de consolidação, agora buscam agregar serviços e melhorar a qualidade do atendimento, com a instalação de edge e local data centers para redução de latência e oferta de serviços de nuvem, hosting e colocation a seus assinantes.

Paralelamente, as aplicações de IA – inteligência artificial demandarão maior capacidade de processamento dos data centers, que por sua vez necessitarão de soluções ópticas de alta densidade, como as novas fibras multicore (MCF), em que múltiplos núcleos atuam como estradas paralelas transportando sinais de luz separados e de forma simultânea, e a HCF – Hollow Core, com um núcleo central vazio, ou “hollow”. Diferentemente das fibras ópticas tradicionais, que guiam a luz através de um núcleo de vidro sólido, as fibras HCF permitem que a luz viaje através de um tubo de ar central, com vantagens como a latência até 30% menor (a luz viaja mais rápido no ar do que no vidro) e velocidade de transmissão até 46% maior. Essas fibras já estão em desenvolvimento na OFS Optics, dos EUA, que pertence à The Furukawa Electric Company (FEC).

Presente no Brasil desde 1974, a Furukawa está completando 50 anos de operação e foi a primeira subsidiária do grupo japonês fora do Japão. “Temos compromisso de longo prazo no país. O grupo tem 140 anos de história”, afirmou Shaikhzadeh. Segundo ele, independentemente dos resultados, o grupo continua confiante e ajustando a operação. “Temos um centro de excelência de soluções integradas, que reúne fibra, cabos, conectores, sistemas e software de gerenciamento. Estamos compartilhando essa experiência brasileira com o grupo inteiro. O Brasil é um player significativo no aspecto de desenvolvimento local. Os altos e baixos desses 50 anos nos ensinaram como reagir no mercado, como desenvolver soluções. E valorizar a tecnologia nacional é um dos principais caminhos”, concluiu o CEO.

Na foto, da esquerda para a direita, Celso Motizukui, Foad Shaikhzadeh e Hélio Durigan



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