O Grupo EBM, especializado em engenharia e construção de grandes data centers na América Latina, anunciou uma fusão com a Trusted Data, empresa com sede em Campinas, SP, focada na implantação e operação de edge data centers. Os valores não foram revelados, mas a negociação envolve a aquisição de 55% da empresa, com opção de compra total em quatro anos.

Fundada em 2011 e com sede em Barueri, SP, a EBM tem presença em diversos países da América Latina, como Chile, Peru, Colômbia, Panamá e México, além de um escritório comercial em Hong Kong, com um total de 250 colaboradores, mais de 35 data centers hyperscale já construídos e 500 MW de TI sob gestão. Eduardo Menossi, cofundador do Grupo EBM, destaca que essa movimentação faz parte de uma estratégia de longo prazo para consolidar a presença no segmento de edge data centers. “Não se trata apenas de uma participação, é uma aquisição pensada para fortalecer nossa atuação. A Trusted Data continua sua operação normalmente, mas agora com um aporte de capital que permitirá seu crescimento. Do nosso lado, trazemos nosso know-how de hyperscale para ajudá-los a avançar ainda mais.”

As duas empresas seguem com gestão independente, conduzidas por seus atuais executivos, respeitando as particularidades de cada segmento. “As habilidades são diferentes, os mercados são diferentes. Nosso segredo aqui é deixar a Trusted Data continuar atuando da forma como sempre fez”, afirma Menossi.

A Trusted Data soma um portfólio de mais de 100 edge data centers entregues desde a sua fundação em 2020, a maioria em provedores de Internet. “O Brasil tem uma característica única, com mais de 15 mil provedores regionais. O edge faz muito sentido nesse cenário”, diz o CTO Matheus Moura.

A aquisição permitirá ao Grupo EBM expandir sua atuação para clientes de menor porte, além de agregar as disciplinas de fitout às entregas para os clientes tradicionais de hyperscale, o chamado “recheio” dos data centers, como montagem dos racks, sistemas de segurança, cabeamento, energia e serviços gerenciados de TI, especialidade da Trusted Data. Com isso, poderá entregar projetos completos e multiplicar a atuação nos clientes existentes - até então a EBM não realizava essa etapa da obra. “O encaixe entre as empresas é perfeito. O que eles têm capacidade de oferecer era justamente o que nos faltava para completar nossa proposta de valor com a solução turnkey one stop shop”, diz Menossi.

A recente entrada de Luiz Lopes como CEO do grupo EBM, trazendo seus 18 anos de experiência no BTG Pactual, e agora como sócio da holding, reforça a conexão da empresa com o mercado financeiro. O executivo chega para aproximar a engenharia da realidade dos fundos de investimento. “Nosso mercado está diretamente conectado com o setor financeiro. Muitas vezes, a linguagem do engenheiro não é a mesma do investidor, e essa ponte será essencial para a expansão do grupo”, explica Menossi.

Com a transação, a Trusted Data também passa a ter acesso a uma estrutura robusta de capital, engenharia e supply chain, acelerando o desenvolvimento de novas tecnologias e expandindo sua atuação para além das fronteiras nacionais. “A Trusted Data nasceu para desafiar os modelos tradicionais e entregar soluções que realmente façam sentido para o cliente. Ao integrar o Grupo EBM, elevamos essa proposta de valor a um novo patamar, com mais escala, previsibilidade e inovação”, destaca Felipe Garanhani Cezar, diretor executivo da Trusted Data.

Além da nova estrutura de gestão, a EBM também aposta em um modelo de produção própria e eficiente. Os equipamentos são fabricados pela IDS, empresa criada pelo grupo na China há três anos para fabricação de equipamentos de energia, climatização, enclausuramento, cabeamento, racks e pequenos data centers, que são enviados para o Panamá, onde funciona o centro de montagem e distribuição para toda a América Latina. “Produzimos na China, fazemos a montagem final de alguns sistemas no Panamá e, de lá, distribuímos para diversos países da região”, explica Menossi. Todos os equipamentos IDS são homologados pelos principais clientes de colocation, o que fortalece a expansão da tecnologia chinesa no Brasil e na América Latina.

O Grupo EBM também aposta na sua confiabilidade no mercado chinês como vantagem competitiva. “Construímos uma relação de confiança muito forte com as big techs chinesas. Isso nos dá acesso antecipado à demanda e garante que nossos projetos sejam entregues com excelência”, destacou Menossi. Entre os projetos internacionais da EBM está o data center de 100 MW em solução pré-fabricada próximo a Querétaro, no México, com entrega prevista em apenas 11 meses, um prazo muito menor do que os tradicionais 18 a 20 meses.

O CEO Luiz Lopes compara o potencial brasileiro ao desenvolvimento de Johor, na Malásia, uma região que há quatro anos possuía 400 MW e hoje ultrapassa 3 GW de capacidade instalada. “O crescimento impressionante de Johor foi impulsionado pelo overflow de Cingapura, onde não há espaço, energia e os custos são elevadíssimos. O Brasil vive um momento semelhante em relação aos Estados Unidos: estamos na posição certa, na hora certa e com um produto competitivo. De Fortaleza para Miami, a latência é menor do que de Miami para Seattle. Isso mostra o potencial estratégico do Brasil no setor.”

Outro tema que pode impactar significativamente o mercado de data centers no Brasil é a LGPD - Lei Geral de Proteção de Dados. O país é um dos maiores consumidores de redes sociais do mundo e apenas 20% dos dados dos brasileiros estão armazenados localmente. Ainda não há uma exigência para que os dados fiquem no país. Se houver mudanças regulatórias obrigando empresas de tecnologia a armazenarem dados de brasileiros no Brasil, o impacto será imediato e gigantesco. “Hoje, muitos desses dados estão em lugares como o Chile e os Estados Unidos. Uma exigência dessas pode gerar um aumento exponencial na necessidade de infraestrutura, criando uma verdadeira corrida do ouro no setor. Estamos falando de um crescimento sem precedentes na demanda por data centers no Brasil”, diz o CEO. Mas, mesmo que não ocorra nenhum fato extraordinário, a previsão de crescimento anual do mercado brasileiro é de 25% a 30% pelos próximos cinco a 10 anos.

O avanço da IA - Inteligência Artificial também será um dos grandes motores do crescimento dos data centers no país. “Com a IA, a latência deixa de ser um problema tão grande, o que permite maior flexibilidade na localização dos data centers. Alternativas como ter unidades no sul da Bahia, no Rio de Janeiro ou no interior da região de Salvador passam a fazer muito sentido”, explica o CEO.

A evolução tecnológica recente evidencia o papel fundamental dos edge data centers para todo um ecossistema digital. “Estamos vendo cada vez mais aplicações que precisam estar próximas da ponta”, diz Matheus Moura. O volume de dados processados localmente cresce, demandando infraestrutura de baixo custo e alta eficiência. “As nuvens públicas mostraram-se inviáveis para muitas empresas, devido a custos elevados, manutenção e segurança. Muitas corporações estão voltando a trazer seus data centers para dentro de casa, principalmente grandes indústrias”, diz.

A tecnologia edge já está consolidada nos Estados Unidos há anos, onde há 3700 data centers comerciais de médio e pequeno porte. No Brasil, o setor ainda está em desenvolvimento, mas com crescimento acelerado. “Há um ano ou dois, tínhamos menos de 100 data centers comerciais, hoje são 183”, conclui Moura.

Na foto, sócios do Grupo EBM e Trusted Data.



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