Embora esteja localizada na bacia Amazônica, a maior bacia hidrográfica do mundo, Manaus ainda enfrenta inúmeros desafios no saneamento. Mas sob a gestão privada da Águas de Manaus, do grupo Aegea, que assumiu a concessão dos serviços de água e esgoto do município em 2018, os indicadores estão avançando de forma significativa.

A companhia investiu cerca de R$ 500 milhões nos quatro anos de atuação e deverá destinar mais R$ 1 bilhão nos próximos cinco anos. O plano prevê a construção de mais de 300 km de tubulações de esgoto por ano, que se somarão aos 800 km de rede existente. O índice de coleta, hoje de 26%, deve chegar a 45% em 2025 e 80% até 2030. Quando a Aegea assumiu o serviço, em 2018, o atendimento era de 18%.

Do volume coletado, 100% é tratado em suas ETEs – estações de tratamento de esgoto. As duas principais, como a Timbiras, na Cidade Nova, de 250 L/s, têm capacidade de dobrar a vazão para suportar o aumento de volume previsto. A empresa também pretende instalar na cidade diversas estações compactas de tratamento, que dispensam grandes obras e interceptores, para garantir o rápido atendimento.

“Manaus foi a capital do Nordeste e Nordeste que mais investiu em saneamento e a que mais avançou em água e conexões de esgoto nos últimos três a quatro anos”, diz Renato Medicis, vice-presidente regional da Aegea.

Embora a cidade tenha atingido a universalização no serviço de água, com índice de atendimento de 98%, existem ainda questões importantes a serem enfrentadas. Uma delas é o elevado crescimento demográfico. Atualmente com 2,2 milhões de habitantes, a população de Manaus teve um aumento de mais de 25,5% nos últimos 10 anos, segundo dados do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Esse movimento teve início após a implementação da Zona Franca na década de 1960, atraindo milhares de migrantes de diferentes regiões do país para a capital amazonense.

Sem infraestrutura adequada, muitos moradores acabaram ocupando áreas informais, como becos, palafitas e rip raps, desprovidas de regularização e, portanto, fora do radar de serviços básicos, como água e esgoto. “Por isso, precisamos convencer a população que viveu a vida toda sem essa prestação de serviço dos benefícios da água tratada, como a redução do número de doenças, melhoria do ambiente das cidades, limpeza dos rios e igarapés.  Saneamento não é somente obra e enterrar tubos, mas gestão e relacionamento social, além de levar saúde para a população”, afirma Medicis.

Para apresentar a iniciativa à comunidade, a Águas de Manaus lançou o programa Afluentes, por meio do qual mantém comunicação direta com cerca de 1000 líderes comunitários, que atuam como interlocutores entre a empresa e os habitantes. “Ouvimos as lideranças de cada área, entendemos as necessidades e adaptamos o que for necessário para prestar um bom serviço. Há vários canais de atendimento e equipes proativas que vão até as pessoas”, diz o diretor-executivo da Águas de Manaus, Diego Dal Magro.

Ao chegar nos bairros, as equipes percorrem as ruas e fazem o mapeamento das áreas que necessitam de extensões de rede. A concessionária desenvolve um trabalho voltado para levar água tratada até essas regiões, implantando toda a infraestrutura para abastecer locais que nunca contaram com o serviço regular e que passaram décadas sendo abastecidos por ligações clandestinas, deterioradas e com vazamentos. Com o apoio das lideranças, conseguiu instalar mais de 100 quilômetros de rede em cerca de 30 comunidades, seguindo suas próprias dinâmicas e rotinas, que receberam sistemas completos de abastecimento, incluindo a conexão até a área interna da moradia.

Em muitas delas, como no Beco Nonato (área de palafita), no bairro Cachoeirinha, antes da chegada da rede, os moradores dedicavam parte do dia para buscar água em cacimbas poluídas à beira de igarapés, poços rasos ou depender de tubulações irregulares. Nas regiões alagadas onde estão as palafitas, os encanamentos encontravam-se submersos em áreas enlameadas e poluídas, fazendo com que as famílias tivessem acesso a uma água de péssima qualidade. Sem pressão suficiente, muitas vezes o esgoto invadia a ligação.

Tanto as novas redes de abastecimento quanto os hidrômetros foram implantados em nível elevado, longe do contato com o igarapé, sem riscos de contaminação cruzada e com pressão adequada, garantindo que a água tratada chegue às torneiras com qualidade e segurança.

“Manaus é referência no Brasil por suas iniciativas e no saneamento demos um passo importante, em como atender essas áreas vulneráveis com soluções de infraestrutura e relação direta com a sociedade. Pela primeira vez, pessoas que antes não recebiam o serviço agora, além de água na torneira, recebem dignidade”, diz Thiago Terada, diretor presidente da Águas de Manaus. Mais de 110 mil moradores já foram beneficiados com a chegada da água tratada em suas residências.

Durante o processo de substituição dos chamados “gatos d’água” por conexões regulares, a concessionária realizou também o cadastramento das famílias no programa de tarifa social, que subsidia em 50% as contas de água (cerca de R$ 21 por mês). Atualmente recebem o benefício cerca de 85 mil famílias, número que deverá chegar a 100 mil até julho. “Isso equivale a 20% da população praticamente coberta pela tarifa social, o maior volume de água distribuído do Brasil”, diz Terada. Além dos 20% dos clientes que estão na tarifa social, outros 60% estão na faixa de tarifa mínima.

Para auxiliar no pagamento, um outro programa social é o “Vem com a Gente”, criado para resolver entraves, principalmente relacionados à negociação das dívidas do consumidor, facilitando o pagamento das contas de acordo com suas condições financeiras. Com esses mecanismos, a taxa de inadimplência é pequena, da ordem de 10%.

Para a doméstica Laura Elisário, moradora da comunidade Jorge Teixeira, a tarifa é acessível e traz tranquilidade. “Eu gastava mais de R$ 20 por semana só para ter um pouco de água limpa. Com a tarifa social, pago um valor justo e tenho água para todas as minhas atividades na hora que eu preciso”, conta. Depois de implantada a rede, os casos de doenças causadas por veiculação hídrica, como diarreias, foram reduzidos em mais de 40%.

Em boa parte das regiões em que a Águas de Manaus atuou nos últimos três anos, a fatura de água também se transformou no primeiro comprovante de residência. “Toda vez que me pediam um comprovante, tinha que emprestar de um comércio lá na rua principal. Hoje, esse sufoco acabou. Foi um benefício que chegou junto com a água na minha torneira. Para muitos, pode ser apenas um papel. Mas, sei o valor que isso tem”, destaca Carol Andrade, da comunidade Santa Inês.

As ações de regularização do abastecimento também contribuíram para reduzir os índices de perdas de água tratada. A taxa já foi reduzida em quase 20 pontos percentuais, saindo da casa dos 74,7%, em 2018, para os atuais 57,3%.

O programa desenvolvido pela Águas de Manaus na capital amazonense foi premiado em dezembro de 2019 pelo Pacto Global das Nações Unidas, uma plataforma da ONU voltada para empresas alinharem suas estratégias à sustentabilidade. O projeto “De marginalizados a protagonistas: dignidade e inovação para as regiões de palafitas e ocupações irregulares em Estados do Norte e Nordeste do Brasil” fez o grupo Aegea vencer o Prêmio Cases de Sucesso em Água e Saneamento 2019.

Foto: Marcio Silva



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