Com a presença de 4 mil profissionais do setor, 1250 congressistas e 80 expositores, a 11ª edição do evento Netcom foi realizada de 5 a 7 de agosto, em São Paulo, unindo feira e cinco congressos técnicos: 2° Congresso RTI de Fibra Óptica; 14° Congresso de Provedores de Internet; 15° Congresso RTI de Data Centers; 2° Congresso de Cabeamento e Instalações e 3° Workshop de Compartilhamento de Postes, com uma programação que abrange toda a cadeia produtiva do segmento, incluindo indústria, distribuidores, instaladores, operadoras, data centers, provedores de Internet e usuários corporativos de TI.
O primeiro dia de Netcom, realizado no dia 5 de agosto, reuniu um time de especialistas nos Congressos RTI Fibra Óptica e RTI Provedores de Internet. Entre os destaques da programação, estiveram a participação do diretor de inovação digital do MCTI - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Hamilton José Mendes da Silva, na palestra de abertura do Congresso RTI Fibra Óptica, que contou também com um painel sobre as perspectivas do mercado de fibras ópticas no Brasil, e o painel sobre o impacto da IA - Inteligência Artificial nos provedores de Internet, no congresso RTI Provedores de Internet.
Hamilton José Mendes da Silva falou sobre os programas de incentivo para o setor de tecnologia da informação e comunicação e apresentou os projetos do ministério, que englobam inteligência artificial, semicondutores, tecnologias quânticas, comunicações avançadas, segurança cibernética, IoT - Internet das Coisas e indústria 4.0. Recentemente, o MCTI anunciou o investimento de R$ 60 milhões para a criação de um centro de pesquisa em tecnologia quântica, dentro do PPIs (Programa e Projetos Prioritários de Interesse Nacional). “O ministério desenvolve programas para o fortalecimento do ecossistema de informação e comunicação, consolidando e expandindo as TICs (leis de informática)”, afirmou. Em sua palestra, o diretor do ministério afirmou ainda que a legislação teve êxito ao vincular os investimentos na indústria à pesquisa e desenvolvimento. Além disso, falou sobre a atuação do departamento de inovação digital do MCTI na capacitação de recursos humanos.
Na sequência, o painel Perspectivas futuras do mercado de fibras ópticas no Brasil reuniu representantes de operadoras e fabricantes de cabos ópticos, sob mediação de Paulo Curado, diretor de Inovação do CPQD e coordenador do II Congresso de Fibras Ópticas. Uma das questões abordadas foi o antidumping em fibra óptica. “Importação direta de cabos afeta a produção local, por isso ações de antidumping são necessárias para viabilizar uma competitividade global”, afirmou Cleber Pettinelli, diretor de telecom da Prysmian. “Competição é saudável e necessária, mas tem que ser justa e leal”, completou Reinaldo Jeronymo, CEO da YOFC Brasil. Ambos falaram sobre a microtecnologia e a necessidade de se pensar soluções de infraestrutura de forma conjunta.
O tema inteligência artificial, no Congresso de Provedores de Internet, sob coordenação de José Mauricio Pinheiro, professor no Centro Universitário de Barra Mansa (UBM) e na Faculdade de Educação Tecnológica do Estado do Rio de Janeiro FAETERJ, trouxe reflexões importantes para os profissionais de empresas de provedores no painel Impacto da IA no provedor. Além de falar sobre o modelo de negócio das empresas provedoras, Karine Mansour Soares, CEO da Mansour Consultoria, expôs ao público o conceito de inteligência artificial, que vai além do ChatGPT. “Se a gente não sabe aonde quer chegar e o que precisa, a IA não vai ajudar o negócio”, afirmou. Ricardo Capozzi, perito em computação forense da Inforac Lab Tec Pericial, acrescentou: “Há várias IAs para diferentes tipos de necessidade”. Outro assunto de grande relevância abordado foi a segurança, sobre o qual todos os painelistas concordaram que exige planejamento, organização e processos.
Na terça-feira, dia 6 de agosto, foram realizados os congressos RTI Data Centers e RTI Provedores de Internet. Luis Tossi, coordenador do Congresso de Data Centers e vice-presidente da ABDC - Associação Brasileira de Data Center iniciou o painel “Como as aplicações de IA estão afetando a estrutura de cabeamento lógico” dando uma dimensão do tamanho do segmento que, com a chegada da IA, deve crescer mais 30% ao ano. “Estamos entrando em um superciclo de tecnologia, movido pela inteligência artificial. Uma era em que as indústrias como um todo vão mudar, impulsionadas pela IA generativa”, analisou. Assim, todos os setores têm potencial de expansão. “Estamos em pleno desenvolvimento de soluções para até 1,3 TB, a fim de atender às exigências da inteligência artificial. O futuro a gente constrói agora”, disse Eli Batista, country manager da Siemon do Brasil.
Sobre o futuro tecnológico no panorama de IA, Tossi falou sobre o nosso potencial. “O Brasil é um país de muitas riquezas, com uma abundância de energia, além de termos uma matriz energética extremamente 'clean', verde e com fontes renováveis. E estamos abertos, tentando mostrar para o mundo que temos essa energia disponível para alimentar, principalmente, os grandes data centers que estão chegando para sustentar o serviço de IA. Então, esperamos atrair esse investimento para o Brasil”, concluiu.
No painel “Aplicações, hardware e soluções para o mercado de IA”, Marcel Saraiva, gerente regional de vendas da NVIDIA Enterprise, e Emerson Felipe, diretor comercial da Seal Sistemas de Tecnologia, reiteraram as grandes oportunidades geradas pela IA não só no segmento de data centers, mas em todos os setores. “Vivemos um momento único de tecnologia que vai impactar indústrias de todas as áreas”, afirmou Saraiva. Emerson Felipe, por sua vez, disse que esse movimento já começou. “A IA não é o futuro, já está acontecendo”. Isso torna o mercado de trabalho muito mais dinâmico. “Aquele que se capacita e aprende primeiro sai na frente. Os ciclos são mais acelerados, o que acaba mudando todo o nosso ecossistema”, disse Saraiva.
Dentro do painel Inteligência artificial no data center edge e mini-edge, Eduardo Shuto, Corporate Development & Strategy Director LATAM da Equinix, situou o Brasil em uma posição privilegiada no mercado de data centers, com oferta de mão de obra, boa matriz energética e potencial de liderar o treinamento de IA. O principal desafio na visão dele é criar leis de incentivo. Sobre a participação no congresso, Shuto afirmou: “É muito importante discutirmos sobre inteligência artificial em um evento como o Netcom, porque é um dos assuntos mais falados nos dias de hoje. Além disso, acredito que o Brasil tem uma oportunidade muito grande de ser uma região com papel fundamental, principalmente, no treinamento de IA. O país pode ser um dos hubs globais nesse sentido”. Rogério Mariano, Global Head, Edge Network Planning da Azion, afirmou que será necessário cuidar da infraestrutura de telecom e conectar milhares de cidades.
No painel “Estratégias de gestão e serviços em telecomunicações” do Congresso RTI Provedores de Internet o debate esteve centrado no relacionamento dos pequenos provedores com o cliente e a importância dessa interação para o êxito do negócio. A conversa foi mediada por Henrique Carmine, gerente de estratégia corporativa da American Imports, que iniciou a conversa falando sobre a necessidade de os pequenos provedores fidelizarem o cliente e manterem a competitividade e a relevância. “O desafio dos grandes provedores é a personalização, a experiência oferecida ao cliente, o foco não está na infraestrutura”, na opinião de Jesaias Arruda, vice-presidente da Abranet - Associação Brasileira de Internet. “É necessária uma mudança estratégica, na qual a visão do cliente deve fazer parte das reuniões e dos planos. A partir daí, oportunidades serão descobertas”, analisou Douglas Conrad, CTO da Opens Tecnologia.
O terceiro dia do evento se encerrou com a realização do III Workshop de Compartilhamento de Postes e do Congresso RTI de Cabeamento e Instalações. “Tivemos um dia bastante completo em termos de assuntos, com uma grade abrangente. A ideia foi trazer novos conhecimentos aos participantes e desenvolver discussões sobre o futuro e encerramos o evento com os objetivos atendidos. O Netcom é essencial para o mercado brasileiro, porque é o único lugar que reúne profissionais desse setor com uma ampla cobertura e, o mais importante, com um olhar técnico sobre os assuntos tratados, com pouca ou nenhuma importância a questões de marketing ou comerciais”, avalia o engenheiro eletricista Paulo Marin, doutor e mestre em engenharia elétrica em interferência eletromagnética e propagação de sinais, e coordenador do RTI Cabeamento e Instalações.
“O evento despertou grande interesse por ser técnico e orientativo, uma vez que os temas discutidos demandam providências urgentes para a implantação e o ordenamento das redes”, disse o engenheiro especialista em infraestrutura de telecomunicações Marcius Vitale, CEO da Vitale Consultoria e presidente da Adinatel - Associação dos Diplomados do Inatel, que coordenou o 3º Workshop RTI Compartilhamento de Postes.
O painel de abertura do workshop tratou da “Nova NBR 15.214 - Rede de distribuição de energia elétrica - Compartilhamento de infraestrutura com redes de telecomunicações”. Fruto de um trabalho conjunto de operadoras, consultores e empresas do setor elétrico, a atualização foi elaborada ao longo de 35 reuniões durante os últimos três anos e foi publicada em maio. “Quando a norma foi criada, havia poucos ocupantes instalando cabos nos postes. Ela precisou ser readequada para atender à nova demanda”, explica Vitale. Após a privatização das telecomunicações, houve um aumento significativo no número de empresas utilizando a infraestrutura aérea em postes: hoje são mais de 20 mil em atividade. “Com muitos novos projetos, essa infraestrutura tornou-se muito mais ativa. A revisão modernizou a norma para refletir essa realidade”.
Entre os aspectos definidos pela atualização da NBR 15.214, destacam-se a identificação e o posicionamento da caixa de emendas, a reserva técnica, o ponto de fixação e os distanciamentos das redes elétrica, de telecomunicações e de iluminação. Para esmiuçar o conteúdo da nova norma, participaram dos debates o engenheiro Rodrigo Urçulino, Analista de Proteção da Receita da Gerência de Receitas Acessórias da Cemig, e Daniel Vagner Santos, consultor de telecomunicações da Vivo (Telefônica Brasil).
O painel “Avanços e Oportunidades no Compartilhamento de Postes” trouxe uma acalorada discussão sobre um tema complexo (veja matéria a seguir).
No painel “Explorando as novas normas de segurança do trabalho”, foram apresentados números de acidentes de trabalho no setor e discutidas propostas para reduzir essas estatísticas. De acordo com dados do Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica 2023/2022 (Abracopel) trazidos pelo mediador Rogério Moreira Lima, Coordenador da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes e da Câmara Especializada de Engenharia Elétrica do CREA-MA, entre 2017 e 2022, houve um aumento de 440% de vítimas fatais por choque elétrico na rede aérea de distribuição. “A grande maioria descumpre a norma, seja por interesses ou desconhecimento das premissas do trabalho”, segundo Aguinaldo Bizzo, consultor em segurança e saúde ocupacional e membro do GTT da NR10. Um dos pontos levantados foi a questão dos custos envolvidos nesses incidentes. “Segurança do trabalho é uma necessidade, pois estamos cuidando da saúde financeira da empresa também. É melhor investir em preparo do que reparo”, afirmou Gianfranco Pampalon, ex-auditor fiscal do trabalho e membro do CNTT da NR 35, mostrando todos os custos decorrentes de um acidente.
No painel “IA na infraestrutura de telecomunicações”, uma interessante discussão mediada por Marcius Vitale ocorreu sobre as inúmeras possibilidades da inteligência artificial. “IA pode ser muitas coisas. Temos os modelos de linguagem como o chat GPT, a IA generativa, mas existem outros milhares de algoritmos que não foram democratizados. Mais provavelmente até a próxima década teremos a inteligência artificial geral, que vai projetar as próximas gerações”, disse Antonio Marcos Alberti, pesquisador e professor do Inatel - Instituto Nacional de Telecomunicações, que acredita que a realidade da infraestrutura de postes é reflexo da sociedade atual, de como os coletivos funcionam e se organizam, herança da era industrial, quando o lado humano ficava de lado. Daniel Moura, CEO e Fundador da PIX Force.AI, apresentou as principais soluções da empresa. “Já utilizamos IA para inspeção de postes de forma rápida e eficiente”. Cibelle Mortari Kilmar, integrante do IWB - Infra Women Brasil no setor de telecomunicações, falou sobre os aspectos jurídicos envolvidos. “Já avançamos bastante na regulamentação da IA. Estamos no caminho certo. Precisamos ter esse fenômeno social tutelado”.
Dentro do congresso RTI de Cabeamento e Instalações, aconteceu a palestra sobre a norma ABNT NBR 16869-5:2024 para redes POLAN, com Emílio Scalise, CEO da Tellnet. A nova NBR especifica os requisitos e as recomendações para a infraestrutura de PON, redes ópticas passivas usando fibras ópticas monomodo.
Feira: expositores nacionais e internacionais
Com estandes de empresas nacionais e internacionais, a feira ofereceu um panorama das soluções mais recentes para o mercado de telecomunicações. Entre os expositores, estavam fornecedores de fibra óptica, cabos, conectores, adaptadores, componentes, unidades fornecedoras de energia, mini data centers, racks e gabinetes, baterias e TV digital, entre outros serviços.
Para Vicky Chen, diretora de vendas da empresa chinesa Takfly, o Netcom representa muitas oportunidades para a sua empresa no mercado brasileiro. “Sempre conquistamos muitos clientes novos, além de recebermos visitas dos clientes mais antigos. Na minha opinião, os chineses deveriam vir mais ao Brasil para participar deste evento e entender melhor o mercado do país. O Brasil é um ótimo mercado."
As associações parceiras do evento que estiveram presentes nesta edição também reconheceram o valor deste encontro entre os profissionais da área. Vagner Gianini, presidente da UBIC - União Brasileira dos Instaladores de Cabeamento, avaliou: “Nossa presença no Netcom é muito importante, porque nos reconectamos com todos os fornecedores e, principalmente, os associados que estão na feira colhendo informações”. Segundo Ivan Ianelli, presidente da Abeprest - Associação Brasileira de Empresas de Soluções de Telecomunicações e Informática, o evento faz parte do calendário da entidade. “Prestigiamos todos os anos e, em 2024, o evento foi novamente excelente, com palestras, painéis e apresentações imperdíveis. Além disso, muito se falou sobre novas soluções e tecnologias".
O Netcom é uma realização da Aranda Eventos, empresa com 30 anos de experiência na organização e coorganização de eventos como as feiras e congressos Intersolar South America, Data Centers e Provedores de Internet.
A promoção e a curadoria de conteúdo contam com o suporte da revista RTI - Redes, Telecom e Instalações, primeira revista direcionada aos profissionais de infraestrutura de redes e telecom lançada em 2000 pela Aranda Editora. O evento também contou com a parceria do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e das associações ABDC - Associação Brasileira de Data Center, Abeprest - Associação Brasileira de Empresas de Soluções de Telecomunicações e Informática, Aberimest - Associação Brasileira das Empresas e Profissionais de Engenharia das Comunicações e Infraestrutura, Abracloud - Associação Brasileira de Infraestrutura e Serviços Cloud, Abranet - Associação Brasileira de Internet, Abramulti - Associação Brasileira dos Operadores de Telecomunicações e Provedores de Internet, TelComp Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas e UBIC - União Brasileira dos Integradores de Soluções de Engenharia.
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