por Luiz Carlos Fonte Nova de Assumpção*
À medida que o mercado se movimenta na direção de encontrar soluções de baixo carbono para a questão energética global, o hidrogênio verde (H2V) vem se tornando uma das soluções mais interessantes devido ao seu processo de produção com baixa emissão de gases de efeito estufa (GEEs) e à aplicação válida em indústrias de intensa demanda energética, tais como a indústria química e petroquímica.
No entanto hoje aproximadamente 99% do hidrogênio usado como combustível é produzido a partir de fontes não-renováveis e apenas 0,1% a partir da eletrólise. Enquanto esse mercado ainda está sendo desenvolvido, vemos uma crescente demanda por investimentos em projetos de pesquisa & desenvolvimento (P&D) com foco na produção do combustível. A figura abaixo mostra os investimentos feitos em H2V no período de 2016 a 2020 no Brasil.
Fonte: EPE, Brasil, Dez/22
Segundo um estudo da consultoria Bloomberg NEF (com foco em tendências e tecnologias da indústria), em 2020, o investimento, em nível mundial, em P&D de hidrogênio verde aumentou de US$ 858 milhão para US$1,1 bilhão, um aumento de 22% em relação a 2019. As principais áreas de pesquisa e desenvolvimento incluem produção, armazenamento, transporte e uso do combustível.
Embora os desafios pesem mais do lado da oferta, principalmente no que diz respeito ao custo de produção, está cada vez mais claro que o H2V terá papel crucial na transição energética, com o Brasil se destacando como um dos grandes produtores mundiais.
A tensão geopolítica entre a Rússia e a Ucrânia tem forçado vários países a antecipar os seus planos de transição energética e, em particular, os investimentos em hidrogênio verde. A União Europeia colocou em prática o REPowerEU, um plano para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis russos e acelerar a transição energética para uma matriz não-fóssil.
De acordo com estudo da Think Tank Carbon Tracker, ao menos 25 países já se comprometeram a investir cerca de US$ 73 bilhões em hidrogênio verde nos próximos anos. Grandes empresas como a Shell, Air Products e BP têm projetos previstos para os próximos anos para instalação de unidades produtoras de H2V na Holanda, Arábia Saudita e Austrália, respectivamente.
No Brasil, os investimentos em escala industrial começaram em 2023. No Ceará, a EDP Brasil investiu R$ 42 milhões para a construção de uma usina de hidrogênio verde, município de São Gonçalo do Amarante. Outras empresas como a Raízen e AES Brasil já sinalizaram o interesse na produção de H2V nos próximos anos.
Mas foi a Unigel que saiu na frente. Com um projeto ambicioso na ordem de US$ 1,5 bilhão, a empresa pretende produzir 100 mil toneladas por ano em uma nova planta de H2V a ser instalada na unidade de Camaçari, Bahia. Com o uso de tecnologia alemã da Thyssenkrupp Nucera de eletrólise de água, a Unigel espera atender setores como a siderurgia, o refino de petróleo e a produção de amônia verde, agregando valor à cadeia de valor da própria empresa, já que a amônia verde seria matéria-prima para a produção de fertilizantes e acrílicos.
A Unigel é uma das maiores empresas químicas do país, com posição de liderança em estirênicos, acrílicos e fertilizantes nitrogenados na América Latina. Em 2021, a empresa faturou 8,5 bilhões, com um lucro líquido de R$ 882 milhões. Em novembro de 2019, a Unigel arrendou duas unidades de produção de fertilizantes nitrogenados da Petrobras (Laranjeiras, SE, e Camaçari, BA), por meio de contrato de dez anos (prorrogáveis), com foco no agronegócio brasileiro.
Com o investimento na área de combustível verde, a Unigel se posiciona no segmento de energia e atendimento das metas de redução de emissões. Outras empresas de outros segmentos também avaliam investimentos na área de H2V e energias limpas, tais como eólica e solar.
De acordo com uma pesquisa da McKinsey & Company, consultoria empresarial norte-americana, o H2V deve gerar investimentos no mercado brasileiro na ordem de US$ 200 bilhões até 2040.
Está claro que é um caminho sem volta. Com os avanços tecnológicos e a redução dos custos de produção e armazenamento, o hidrogênio verde veio para ficar.
*Luiz Assumpção é consultor parceiro da OHXIDE Consultoria (Rio de Janeiro, RJ e Paulínia, SP) – ohxide@ohxide.com.br
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