Por Marcio Grazino*

 

A COP30, 30ª conferência da ONU sobre mudanças climáticas, chega ao Brasil com holofotes voltados para governos e grandes corporações. Mas, nos bastidores que realmente movimentam a economia, há protagonistas que começam a ocupar seu lugar na história da transição sustentável: as empresas de médio porte.

 

Elas são o coração que bombeia empregos, inovação e produção no País. Representam grande parte do PIB industrial e convivem com dilemas diários, tais como escassez de matéria-prima, custos de energia, pressão regulatória e competitividade internacional. Justamente por isso, quando escolhem fazer diferente, o impacto é profundo.

 

Na indústria, cada decisão é uma engrenagem. Uma mudança de rota pode alterar um mercado inteiro. É o que acontece quando uma empresa decide transformar resíduos em recursos, rever processos e assumir responsabilidade real sobre o que coloca no mundo.

Na indústria que dirijo, em Ribeirão Pires (SP), desde 2022 contamos com uma extrusora recicladora que dá destino circular a todas as sobras provenientes do processo produtivo, com capacidade para transformar 22 toneladas por mês em uma nova matéria-prima. Um ciclo completo em 48 horas, quando antes o mesmo processo terceirizado levava 40 dias. A diferença não está apenas no tempo, mas na lógica. O plástico deixa de ser problema e se torna patrimônio.

 

Com ações como essa, a indústria para de vender sucata barata que voltaria como insumo caro e ganha autonomia frente à escassez. Reduz impacto ambiental sem perder eficiência. Capacita suas equipes para operar tecnologias digitais que garantem rastreabilidade e performance. Foi mais de R$ 1 milhão investido em equipamentos e infraestrutura, com retorno traduzido em inovação viva.

 

E isso não é um caso isolado. Uma constelação de indústrias médias no Brasil vem adotando energia renovável, logística reversa, produtos de menor impacto e processos inteligentes. Cada ação, mesmo silenciosa, ajuda a reescrever o papel do setor privado na transição ecológica.

 

A urgência é fato: relatórios recentes mostram que o Brasil despeja 1,3 milhão de toneladas de plástico no mar por ano e que apenas 9% do plástico mundial é reciclado. Não há mais espaço para soluções fragmentadas. Precisamos de políticas públicas que incentivem a reciclagem, de educação ambiental, para construir novos hábitos, e de inovação que derrube velhas desculpas.

 

A indústria de médio porte já está fazendo sua parte. De dentro das fábricas, vem surgindo a mudança estrutural que o mundo busca nas grandes conferências. Empresas que não esperam uma nova lei para agir, que transformam responsabilidade em oportunidade. Que provam que a economia circular cabe na rotina e não apenas nos relatórios.

 

A COP30 pode ser o palco que dará voz a esse movimento. O Brasil tem a chance de mostrar que desenvolvimento sustentável não é só uma agenda macroeconômica, mas sim um conjunto de escolhas corajosas feitas todos os dias por quem produz. Porque a transição climática só será real quando as engrenagens da indústria girarem em direção ao futuro. E isso, as médias empresas já começaram a fazer.

 

*Marcio Grazino é Diretor da Maximu’s Embalagens Especiais, que atua na fabricação de embalagens plásticas de proteção. 

 

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Imagem: Divulgação.

 

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