Entre 2003 e 2020, pesquisadores da Unesp Ourinhos monitoraram com precisão os níveis de água subterrânea na Bacia do Paranapanema e constataram que, apesar da escassez de chuvas e da intensificação da perfuração de poços, os aquíferos Bauru, Serra Geral e Guarani mantiveram-se surpreendentemente estáveis.
O estudo utilizou dados do projeto GRACE - Gravity Recovery and Climate Experiment, uma colaboração entre Nasa e o Centro Aeroespacial Alemão, combinando medições gravimétricas por satélite com observações de campo. Essa metodologia permitiu identificar padrões de armazenamento hídrico espacialmente estáveis, chamados hotspots, que resistiram bem às variações climáticas.
Os pesquisadores descobriram que áreas rurais com cobertura vegetal nativa e baixa densidade urbana tendem a concentrar maiores reservas subterrâneas. No entanto, alertam que esse potencial não equivale necessariamente a maior disponibilidade imediata de água — o uso sustentável deve ser planejado com base em dados técnico-científicos.
Segundo o hidrólogo Rodrigo Manzione, da Unesp, a constatação de estabilidade reforça a necessidade de integrar o monitoramento de aquíferos aos planos de gestão das bacias hidrográficas, como instrumento central da segurança hídrica regional. “A água subterrânea não pode ser vista apenas como recurso de última hora — ela deve ser incorporada estrategicamente ao abastecimento e ao uso urbano e rural”, enfatiza.
A pesquisa também destaca riscos associados ao uso desordenado, como a perfuração clandestina de poços e a subsidência do solo. A ausência de regulação adequada pode levar à contaminação do lençol freático e afundamentos, especialmente em regiões com aquíferos frágeis articulados com o ciclo hidrológico superficial.
Enquanto mecanismos superficiais, como reservatórios e rios, sofrem diretamente com a variabilidade pluviométrica, as águas subterrâneas demostraram maior resistência a eventos extremos de seca. Essa característica torna os aquíferos um elemento básico e confiável frente às crises climáticas e à crescente demanda por água potável.
O estudo ressalta também que o monitoramento contínuo é essencial. Apesar de não terem sido observadas quedas drásticas nas reservas, os sinais de declínio gradual exigem atenção técnica e institucional.
O estudo da Unesp foi concebido com caráter aplicado, envolvendo mestrandos vinculados a comitês de bacia e órgãos gestores regionais. De acordo com os autores, esse tipo de pesquisa aproxima universidade e poder público e oferece subsídios técnicos robustos para a formulação de políticas hídricas sustentáveis e adaptadas à realidade local.
Os resultados obtidos no Paranapanema também reforçam a relevância de se ampliar esse tipo de metodologia para outras regiões do país, contribuindo para um modelo de gestão hídrica baseado em evidências e centrado no ciclo integrado dos recursos de água.
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