O uso de membranas de ultrafiltração vive um boom no saneamento brasileiro. A avaliação é de Marcelo Bueno, gerente para a América do Sul da Toray, fabricante japonesa com longa trajetória no desenvolvimento de tecnologias de separação por membranas.

Segundo ele, a demanda cresceu exponencialmente nos últimos quatro a cinco anos, impulsionada por projetos municipais que passaram a adotar a ultrafiltração como principal alternativa às estações convencionais de tratamento de água.

Bueno explica que a mudança de perfil do mercado é recente. “Até pouco tempo, o consumo de membranas vinha quase todo do setor industrial, em projetos de reúso, desmineralização e processos internos de tratamento. Agora, as companhias de saneamento despertaram para a tecnologia”, diz. Ele atribui essa expansão à predominância de águas superficiais de baixa salinidade no Brasil, ideais para a potabilização via ultrafiltração.

A Toray fornece três linhas principais de membranas — osmose reversa, MBR (biorreator de membranas) e ultrafiltração — e vem expandindo a aplicação combinada dessas soluções. A empresa lançou recentemente uma nova membrana de ultrafiltração de alta remoção, com poros mais fechados, entre 30 e 50 mil daltons, capaz de remover maior quantidade de matéria orgânica. “Ela é indicada tanto para águas com alto teor orgânico quanto como pré-tratamento de osmose reversa, prolongando a vida útil do sistema”, explica Bueno.

Outra inovação destacada é a membrana de osmose reversa voltada para a remoção de íons difíceis de rejeitar, como boro, sílica e fluoreto — um avanço destinado principalmente à indústria de semicondutores, que exige água ultrapura para lavagem de placas eletrônicas. Essa tecnologia já está disponível no Brasil e vem sendo aplicada em projetos locais.

O executivo ressalta que a integração entre as diferentes linhas é um diferencial da Toray. “Podemos cuidar do projeto de ponta a ponta, selecionando o tipo de membrana conforme a necessidade — se é apenas potabilização, reúso industrial ou tratamento completo de efluente. As soluções se complementam”, diz.

O avanço no saneamento, segundo Bueno, também foi favorecido pela redução dos custos. “O preço por metro quadrado de membrana caiu com o aumento da escala de produção global. Hoje, o investimento inicial está na mesma faixa, ou até 10% acima de uma ETA convencional, mas essa diferença se paga rapidamente na operação”, afirma.

Entre as vantagens, ele cita a simplicidade construtiva — “basicamente bases civis, sem grandes obras” — e a economia de produtos químicos. “Não há necessidade de coagulação nem floculação, e o consumo de hipoclorito se restringe à limpeza das membranas.”

Outro atrativo é o alto nível de automação. “Uma ETA convencional dificilmente é 100% automática. Já as unidades de ultrafiltração podem operar com total automação, garantindo regularidade de qualidade mesmo em variações de turbidez da água bruta.”

Os projetos recentes reforçam essa tendência. A Toray fornece membranas para duas grandes plantas de potabilização em instalação no Nordeste — uma da Cagece, no Ceará, com capacidade de 560 L/s, e outra em Alagoas, de 530 L/s. Ambas utilizam módulos de fibra oca, conhecidos como “espaguetes”, e foram contratadas por concessionárias públicas via licitação. “Essas plantas mostram como o setor público vem adotando a ultrafiltração em larga escala”, observa o executivo. A primeira experiência brasileira nesse formato foi a estação Alto da Boa Vista, da Sabesp, ainda antes da privatização.

Bueno lembra que o mesmo conceito também vem sendo aplicado em sistemas industriais de alimentos e bebidas, embora a escala municipal hoje lidere a demanda. “A água tratada por membranas tem qualidade constante, livre de vírus e bactérias, e traz segurança para a população. É uma tecnologia que veio para ficar no saneamento”, conclui.



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