por Flávio Silva*


 

Falta competitividade à indústria nacional, seja ela de qualquer segmento. O “custo Brasil” prejudica todos os setores, com impactos sobre a mão de obra, tributário e no quesito energia, entre outros fatores que atrapalham a melhora das margens e a competitividade nacional.


 

A rentabilidade de empresas internacionais do setor petroquímico nos últimos anos traz um panorama bem interessante de como se comportou o segmento. Verifica-se isso através dos EBITDAs das maiores empresas de cada região. O gráfico abaixo mostra isso (primeiro quarto de 2019 foi utilizado como indexador - base 1,0).


Fonte: Site das empresas / Ohxide


 

E como evoluiu isso no cenário nacional? A mesma análise foi feita para algumas das maiores empresas petroquímicas nacionais, Braskem, Unipar, Unigel e Videolar-Innova, como pode ser visto abaixo:


Fonte: Site das empresas / Ohxide

*Videolar não apresenta resultados trimestrais, com isso foi considerada uma média do valor anual.


 

As empresas nacionais apresentaram comportamento muito semelhante ao das internacionais. A diferença ficou por conta do patamar de aumento em relação ao dado-base (Q1 2019), que no Brasil, em média, foi bem maior.

Este se justifica, principalmente, pela depreciação da taxa de câmbio, uma vez que estes resultados foram gerados em reais, mas também pela condição de competição interna. Enquanto no Exterior existe uma maior competição entre os players, aqui temos monopólio ou duopólio nestes mercados de resinas. Isso com certeza, em tempos de escassez ou quebra da cadeia, força preços e margens para cima.


 

Para as empresas de transformação (ou terceira geração) a sua posição na cadeia de valor, por si só, já reduz sua competitividade, pois compram matérias-primas de grandes petroquímicas e vendem seus produtos para grandes redes ou brand owners. Em ambos os casos o poder de barganha de negociação não está com eles.


 

Recente estudo da CNI (Competitividade Brasil 2022-2021) mostra que apesar de uma melhora na competitividade nacional nos últimos anos, ainda estamos longe do ideal e mesmo de alguns países cujas economias e populações se equivalem à nossa.


 

Este estudo está em sua 7ª versão e elabora um ranking de 18 países utilizando diversos fatores para gerar a avalição. Nesta última edição o Brasil ficou em 16º lugar, com avanço de uma posição em relação ao estudo anterior.


 

Alguns fatores impactam de forma mais direta a indústria petroquímica e de plásticos: mão de obra; infraestrutura e logística; e tributação.


 

O Brasil teve uma piora no quesito mão de obra, principalmente devido à disponibilidade, em comparação ao dado anterior (2019), sendo a taxa de crescimento da força de trabalho brasileira reduzida em 1%. Já em termos de custo de mão de obra houve uma variação de US$ 3,85/h para US$ 2,93/h, justificada pela depreciação do real frente ao dólar e também questões da pandemia. A produtividade média brasileira está entre as piores, sendo de duas a três vezes menor que a do grupo líder.


 

Sobre infraestrutura e logística, dos subfatores analisados o País só está em posição razoável para telecomunicações. Para logística o país teve melhora nos últimos anos, mas insuficiente para tirar das últimas posições. O subfator energia elétrica que afeta diretamente a indústria de transformação, o país tem um dos custos mais altos do estudo e apenas em relação à disponibilidade aparece em posição razoável.


 

No quesito tributação o país avançou uma posição, saindo do último lugar (ultrapassou a Argentina). O sistema tributário brasileiro é oneroso e complexo, o que obriga as empresas a gastarem mais com tributos e com despesas de pessoal para interpretar e planejar as questões tributárias.


 

Para o setor petroquímico e de plásticos, o desafio é grande. Além de todo o exposto temos também as questões de limitação de matéria-prima local (nafta e etano/propano) e questões de baixa competitividade, o que força a indústria do plástico (3ª geração da cadeia) a ser muito criativa e cada vez mais olhar para seu ambiente de negócio. Estar atento às tendências, acompanhar evolução de preços internacionais e locais, revisar seu planejamento e estratégia com frequência, estar sempre atento aos custos/despesas, entre outras ações, serão de fundamental importância para manter sua competitividade nos negócios.


 


 

*Flávio Silva é sócio-diretor da Ohxide Consultoria (Rio de Janeiro, RJ e Paulínia, SP) – ohxide@ohxide.com.br



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