Iluminação biologicamente ativa aplicada a um residencial para idosos


Pessoas com restrições de mobilidade, que permanecem em ambientes internos, podem se beneficiar das características da iluminação biologicamente ativa, como descreve este artigo.


Data: 20/08/2016

Edição: LUX Agosto 2016 - Ano 1 - No 2

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As diversas qualidades e a dinâmica da luz natural foram fatores decisivos para a evolução do ser humano.A luz define não apenas as condições visuais para as pessoas, como também outras funções e efeitos importantes. Por exemplo, a percepção de uma cena iluminada está associada a experiências arcaicas milenares e provoca imediatamente determinadas emoções no nosso subconsciente. E se a impressão visual do nosso ambiente está associada ao calor, claridade, ameaça ou tensão, ela é essencialmente determinante de como nos sentimos.

A produção de vitamina D, por outro lado, é um bom exemplo de como os componentes espectrais da luz natural são indispensáveis para certos processos bioquímicos e, portanto, vitais para o ser humano. Não por último, a dinâmica da luz do dia e das variações sazonais da luz natural regula nosso relógio interno e controla a supressão ou a descarga de diversos hormônios. Devido a essas múltiplas funções para o bem-estar e a saúde, a exposição ao espectro completo da luz natural ao ar livre é tão importante quanto a alimentação saudável e a atividade física.

Grupos populacionais cuja permanência sob a luz natural não seja habitual são constituídos de pessoas que requerem cuidados assistenciais. Limitados na sua mobilidade e em parte dependentes de cuidados permanentes, elas não podem deixar os prédios por iniciativa própria e passam a maior iniciativa própria e passam parte do dia em ambientes internos. A falta de luz natural com espectro pleno não pode ser completamente compensada pela iluminação artificial, mas a ciência adquiriu novos conhecimentos importantes nos últimos 15 anos. Eles formam a base para soluções de iluminação capazes de proporcionar mais do que apenas boas condições visuais, pois elas desencadeiam, além disso, efeitos biológicos.

O quinto fotorreceptor

Em 15/08/2001, neurocientistas do Jefferson Medical College publicaram um artigo no Journal of Neuroscience sobre um quinto fotorreceptor no olho humano, que controla a produção de melatonina. George Brainard, que dirigiu a pesquisa, declarou na ocasião: “Temos fortes evidências de um quinto fotorreceptor de um novo tipo, que parece ser independente dos fotorreceptores clássicos da visão. Ele tem influência sobre os efeitos biológicos da luz”. (O que Brainard denominou quinto fotorreceptor, ao lado dos bastonetes e dos três tipos de cones, atualmente é em geral designado terceiro fotorreceptor, ou ainda fotorreceptor circadiano.)

De fato, a equipe de Brainard submeteu cobaias à luz com diversos comprimentos de onda, e constatou-se que a luz azul (446-477 nm) altera ao máximo a taxa de melatonina no sangue, na medida em que interrompe a produção do hormônio. O nível de melatonina é um importante parâmetro regulador do nosso ciclo sono-vigília. A supressão de melatonina pela manhã e durante o dia (devido ao componente azul normalmente elevado no espectro da luz natural) nos torna despertos e ativos. À tarde, quando a luz natural se torna mais suave, verifica-se um aumento de melatonina, que causa cansaço. A descoberta do quinto fotorreceptor, e, desde então, a crescente compreensão dos efeitos circadianos da luz, reforçam mais uma vez o quão importante para nós é a dinâmica da luz natural no curso do dia. Simultaneamente, os conhecimentos possibilitam também a aplicação desses princípios ativos à iluminação artificial.

Trazer a dinâmica da luz natural para o ambiente

Já muito cedo, a Derungs Licht (do grupo Waldmann) dedicou-se aos efeitos não-visuais da luz, e desenvolveu um sistema de iluminação que varia o espectro de luz e o fluxo luminoso com base na dinâmica da luz natural. Desde então, a empresa instalou o seu sistema de gerenciamento de iluminação — Visual Timing Light (VTL) — em mais de 200 locais, e pode exibir uma experiência de dez anos em luz biodinâmica. A esta experiência pertence, por exemplo, uma avaliação da iluminação dinâmica instalada num residencial para idosos na cidade de Hüfingen (região de Freiburg), na Alemanha. Já depois de oito semanas com a nova solução de iluminação, melhorou a qualidade do sono dos residentes. Cerca de um ano depois, foi observada uma redução de quase 75% nos casos de inquietação noturna. No curso dos testes de avaliação, quando a iluminação dinâmica foi desligada, a qualidade do sono piorou, regredindo em seis semanas para os níveis originais. Uma vez restabelecido o sistema Visual Timing Light, o sono melhorou novamente.

Repercussões positivas sobre a iluminação VTL não se limitam aos residentes, mas também se estendem ao pessoal de serviço. Os funcionários relatam que “a luz faz bem ao espírito e estressa menos a visão”. O fato de os residentes se movimentarem sem receio, graças às melhores condições visuais, e participarem mais intensamente dos eventos cotidianos, graças à atmosfera luminosa estimulante, simplifica igualmente o trabalho do pessoal. Ao mesmo tempo, a iluminação VTL ajuda a estruturar o dia, uma vez que ela anima as refeições e proporciona um ambiente suave nas pausas para descanso.

Requisitos complexos

Esses efeitos também beneficiam os residentes do Centro de Terapia Integra, na região metropolitana de Hamburgo. No foyer, no restaurante, em todos os corredores e salas de estar foram instaladas luminárias na versão VTL. A temperatura de cor é ajustável entre 3000 K e 6500 K, e as luminárias são dimerizáveis linearmente. O protocolo de controle de iluminação é o DALI. A programação das cenas de iluminação é realizada por laptop ou PC, e o comando, por meio de botões ou iPad-App.

Para que a luz artificial atue conforme o ciclo circadiano não basta, porém, que ela tenha uma dinâmica qualquer e apresente um componente espectral azul. Efeitos biológicos só podem ser registrados, por exemplo, com iluminâncias entre 500 lx e 1500 lx. Para que a luz azul alcance os fotorreceptores circadianos situados na parte inferior da retina, ela deve incidir no olho de cima e pela frente e iluminar uma parte substancial do rosto. O céu é o modelo natural no qual as fontes de luz biologicamente ativas devem se orientar.

Nos recintos do Centro de Terapia, esses requisitos foram satisfeitos por meio de diversas medidas. Nos corredores, por exemplo, foi criada uma iluminação artificial “celestial” mediante emissão direta/ indireta das luminárias de parede. Elas clareiam as superfícies de trânsito com o seu componente direto, enquanto o componente indireto é refletido na parte alta das paredes e no teto, sem adulterar o espectro de luz. Nas demais áreas, luminárias pendentes seguem o mesmo princípio. Outras variáveis importantes da iluminação circadiana são o momento, a duração e a sequência das diversas cenas de iluminação. No caso presente, a luz natural incidente nos ambientes complementa a iluminação artificial, já que esta deve compensar a falta daquela. Ambos os tipos de luz estão, portanto, sincronizados da melhor forma possível. Numa aplicação como esta, pode ser interessante incorporar sensores de luz natural que ajustem o fluxo luminoso das luminárias e, deste modo, contribuam para economizar energia. Potenciais de eficiência energética adicionais podem ser explorados com sensores de presença.

Finalmente, uma análise econômica das soluções de iluminação biologicamente ativa não é tarefa simples. Aos altos custos de investimento em luminárias e controle de iluminação se contrapõem as vantagens para os usuários e operadores. A melhor qualidade de sono dos residentes, por exemplo, pode significar menos medicamentos. E a iluminação pode também ter influência sobre o absenteísmo e a motivação do pessoal. Indiscutível nesse contexto é a projeção da imagem do estabelecimento, que não somente investe em tecnologia moderna, mas também sinaliza sua exigência em relação a todos os aspectos do atendimento dos residentes do centro de terapia.