Os riscos do uso de esmerilhadeiras pneumáticas em fundições


Neste trabalho, o autor relata os acidentes em potencial associados ao uso de esmerilhadeiras pneumáticas, além de dar dicas sobre como evitá-los.


Romeu Fontes

Data: 05/02/2017

Edição: FS Fevereiro 2017 - Ano 27 - No 290

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As esmerilhadeiras pneumáticas são usadas na grande maioria das fundições e aciarias em todo mundo, para o acabamento, desbaste e corte de cavacos em peças leves e pesadas.
Logicamente, existem vários motivos para que estas ferramentas sejam tão populares nestes segmentos industriais e o maior deles está associado à agressividade do ambiente de trabalho.
Há de se levar em consideração que as tarefas de esmerilhamento, desbaste bruto, corte ou mesmo acabamento leve produzem uma enorme quantidade de partículas metálicas ou abrasivas provenientes tanto da peça processada quanto do desgaste natural dos discos e rebolos abrasivos utilizados.
Essas partículas circulam livremente no ar, no piso e na esteira da linha de processo de acabamento, quando não há dispositivos ou equipamentos de sucção de pó.Existem três pontos a serem considerados inicialmente:
1) Diferentemente de outros tipos de ferramentas, as esmerilhadeiras pneumáticas possuem pressão interna (6,3 bar) bem maior do que a externa/ambiente (1 bar).Por essa razão, as partículas abrasivas do ambiente não devem entrar no motor da ferramenta, uma vez que a pressão positiva interna da esmerilhadeira funciona como uma barreira física.Esse é o motivo principal da popularidade destas ferramentas nas fundições e aciarias.
2) As partículas metálicas geradas pelo desbaste do fundido tem formato semelhante ao de uma vírgula, sendo altamente escorregadias pelo seu formato arredondado, na maioria das vezes. Escorregões e acidentes com os operadores, visitantes e transeuntes não são raros neste tipo de indústria. Assim, varrer e limpar o piso constantemente deve ser parte da rotina de trabalho.
3) Na maioria das fundições, existe uma grande preocupação em controlar o pó gerado nas tarefas de acabamento dos fundidos, o que não é fácil, porém factível.

Riscos e acidentes

Fig. Esse gráfico, que consta na ISO 5349, exemplifica a possibilidade de se contrair a síndrome de Raynaud quando exposto à vibração constante

Riscos associados à potência das esmerilhadeiras

Sabemos que potência é a capacidade de uma esmerilhadeira executar um trabalho em certo tempo.
Obviamente, a ferramenta que fizer a tarefa em menor tempo é a escolhida. É claro que isso faz sentido, pois quando se reduz o tempo para executar uma tarefa, reduz-se também o custo da mão de obra do operador.
No entanto, há de se avaliar com cuidado a relação potência X peso e o consumo de ar da esmerilhadeira.Onde estão os riscos relacionados à potência da ferramenta?
Ferramentas com potência insuficiente para executar uma determinada tarefa obrigam o operador a aumentar a força de avanço sobre a esmerilhadeira, o que é muito perigoso.
Quando o operador percebe que por mais que ele coloque pressão sobre a ferramenta o desbaste da peça na qual o operador trabalha, ao invés de melhorar, piora mais ainda, fica fácil encontrar explicação.
Se a ferramenta não tem potência suficiente para a tarefa, a tendência do motor é reduzir cada vez mais a rotação do disco de desbaste sobre a peça trabalhada, chegando às vezes até a parar se a força de avanço for feita por um operador mais forte.
Tudo isso devido ao atrito do disco abrasivo com a peça trabalhada e à pouca potência necessária que a ferramenta oferece para executar aquela tarefa.
Este cenário pode ocasionar acidentes como:

O gatilho de segurança e riscos de acidentes graves

A maioria das esmerilhadeiras pneumáticas possuem ou deveriam possuir travas de segurança no gatilho de acionamento.
Assim, cada vez que a ferramenta for acionada, ela está travada, devendo ser mantida pressionada para que o gatilho também seja pressionado e libere a entrada de ar comprimido no motor.
A principal função desta trava é evitar que a ferramenta, caso escape da mão do operador, não alcance o piso ligada.
O problema é que grande parte dos operadores considera essa trava desconfortável e inútil, principalmente aqueles que nunca viram um acidente deste tipo acontecer.
Desta forma, alguns operadores retiram a trava de segurança ou simplesmente a inutiliza com fitas adesivas, expondo-se ao risco de acidentes muito perigosos.

Acidentes com discos abrasivos

Todo disco ou rebolo abrasivo tem um rótulo que informa a rotação máxima p ermitida para o seu uso seguro.
Na plaqueta da esmerilhadeira também é informada qual a rotação que esta ferramenta trabalha quando acionada.
Suponha que o rótulo de um certo disco abrasivo informe que a rotação máxima permitida para que ele seja usado é de 6 mil rpm. E um operador instalou este disco em uma esmerilhadeira que opera com 8.500 rpm, conforme informado na plaqueta da máquina.
Nesse caso, quase que instantaneamente haverá a desintegração física deste disco. Cavacos e cacos do abrasivo serão lançados para todos os lados, podendo causar acidentes graves.
O mínimo que se pode esperar é que a ferramenta esteja com o protetor de fagulhas instalado e o operador esteja usando todos os EPIs adequados (avental, luvas e ombreiras de raspa de couro, protetor auricular, óculos e botas de segurança).

Ergonomia em esmerilhadeiras pneumáticas

Ferramentas com má ergonomia podem causar acidentes, além de várias doenças do trabalho.
A definição mais clássica de ergonomia é: a harmonia entre ferramenta, processo e homem.
Assim, características como ruído, temperatura, reação, vibração, peso, tamanho, postura, empunhadura, acessibilidade, pó e óleo, devem ser levadas em consideração quando se usa ou se pretende empregar ferramentas pneumáticas ou elétricas, principalmente em fundições.
A vibração em esmerilhadeiras manuais é algo que deve entendido e analisado.
Um operador que trabalha várias horas com ferramentas com alto nível de vibração está sujeito a doenças típicas, como a mão branca (white fingers) ou síndrome de Raynaud.
Trata-se de condições que ocorrem como resposta do corpo a temperaturas mais frias. Operadores expostos a altos níveis de vibração em esmerilhadeiras manuais podem ter o fluxo sanguíneo afetado nas artérias das extremidades do corpo, no caso os dedos das mãos, dependendo do número de horas de exposição à vibração.
Quando um operador que tenha adquirido a síndrome de Raynaud expõe as extremidades do corpo a temperaturas mais baixas, o suprimento de oxigênio nos dedos se reduz e torna a sua coloração branca, às vezes azulada, empalidecida e os dedos dormentes. Chamamos isso de “ataques de mão branca”.
Desta forma, é de fundamental importância que os fabricantes de esmerilhadeiras pneumáticas informem o nível de vibração de cada modelo de equipamento e que os usuários considerem essa informação.
Na ISO 5349, há um gráfico estatístico sobre as possibilidades de se contrair a doença quando a exposição à vibração é de 4 h por dia (figura).
Na parte inferior horizontal são mostrados os níveis de vibração (aceleração) que o operador de alguma ferramenta pode estar exposto. O ideal é que estes níveis fiquem entre 2,5 e 3.5 m/s2 , reduzindo os riscos do usuário.
Os números na parte vertical do gráfico indicam em quantos anos podem aparecer algum sintoma da doença.
Já no interior do gráfico há a porcentagem de usuários que estatisticamente apresentam sintomas da doença após alguns anos de exposição.
Ao analisar esse gráfico, concluise que 10% dos operadores expostos a um nível de vibração de 5 m/s2, durante cinco anos, podem apresentar sintomas da doença.
No caso de ferramentas mais antigas e em uso, empresas especializadas, médicos e universidades com comp etência neste tipo de controle e medição podem ajudar com soluções certificadas.
Alguns fabricantes ainda oferecem esmerilhadeiras pneumáticas com dispositivos amortecedores de vibração, os quais são chamados de autobalanceadores. Eles eliminam grande parte da vibração, além de proporcionar uma incrível economia no consumo de abrasivos.
Abaixo estão os principais motivos pelos quais uma esmerilhadeira vibra excessivamente:

Acidentes com ar comprimido

Existem vários fatores que podem causar a explosão da mangueira de ar comprimido:

E mais: seja qual for o motivo que causou a explosão da mangueira, não tente segurá-la. Procure a válvula de controle do ar comprimido e a feche imediatamente.
Uma mangueira que explode ou se solta é muito perigosa, principalmente se houver algum engate rápido metálico na extremidade, podendo levar a uma chicotada no rosto.
Procure usar recolhedores de mangueiras ou mangueiras mais curtas, com alimentação de ar mais perto da ferramenta.
Outra dica é usar uma mangueira mais flexível (1 m) perto da ferramenta (rabicho), mas o restante dela deve ser mais robusta e resistente.Isso evita esforços adicionais e torções no punho do operador.

Acidentes no início de turnos

Acidentes de início de turno acontecem porque o usuário não faz o teste básico antes de iniciar o seu trabalho.
Imagine que um operador iniciará o seu turno com uma ferramenta usada no turno anterior por um colega da linha de acabamento de fundidos. Por algum motivo, esse colega esqueceu de relatar que havia deixado a ferramenta cair no chão ao entregar a máquina ao almoxarifado. E essa ferramenta, ao cair, causou uma trinca no disco abrasivo, que provavelmente se romperá com o próximo operador.
Para evitar acidentes deste tipo, sempre que um operador iniciar o seu dia de trabalho ou uma mudança de turno, a esmerilhadeira deve ser antes testada embaixo de uma bancada ou mesmo embaixo da esteira de acabamento.
Deste modo, o operador estará protegido caso algo inesperado aconteça. Ele deve segurar firmemente a esmerilhadeira, como se fosse operar normalmente.
A ferramenta deve ser ligada já com o abrasivo fixado, mas sem carga embaixo da bancada de proteção. Então, ele deve esperar 7 s.
Caso sejam sentidos sinais de vibração, tenha certeza de que algo está errado.