O presidente do Conselho de Administração da CCEE - Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, Rui Altieri, forneceu na sexta, 3 de abril, os primeiros números dos efeitos das medidas de isolamento social para combate à epidemia de Covid-19 sobre o consumo de energia elétrica do País. O estudo, apresentado em videoconferência com a imprensa, mostra uma clara desaceleração do uso da eletricidade no período de 18 a 31 de março: o Sistema Interligado Nacional (SIN) registrou diminuição de 8% em relação ao período de 1 a 17 de março, sendo que o consumo do ambiente de contratação livre (ACL) caiu 9,4%, e o do ambiente regulado (ACR), 7,4%. A carga média do SIN teve redução entre 12% e 14% nos dias úteis, em comparação com o período anterior às medidas. Os números divulgados são os primeiros calculados pela entidade sobre os efeitos da crise, que devem aprofundar-se nas próximas semanas.

O consumo de energia diminuiu em todos os dias e horários, com redução mais acentuada entre as 10h e 17h. Dos setores consumidores do mercado livre, os mais afetados foram o de veículos, com redução de 39% do consumo, o têxtil, com diminuição de 32%, e o de serviços, queda de 31% nos últimos 14 dias de março. O comércio consumiu 10% a menos. Por outro lado, segundo Altieri, o setor siderúrgico, responsável por um quarto do consumo no mercado livre, teve diminuição de apenas 2% do consumo elétrico. É uma boa notícia mas, como lembrou o executivo, a amostra de apenas duas semanas é ainda pequena para indicar uma tendência. Já o setor de veículos demorou para reduzir seu consumo, mas a queda intensificou-se a partir do dia 24, alcançando 66% no dia 28.

A última semana completa de março (23 a 29), quando foi decretada a quarentena em São Paulo, apresentou a maior redução do consumo no ambiente de contratação regulado (ACR), o mercado das distribuidoras de energia. Em relação aos mesmos dias de 2019, a queda média foi de 10,9%, com as regiões Sul e Sudeste sendo as mais afetadas. Na comparação com a média da semana imediatamente anterior o tombo foi ainda maior, de 12,7%.

Sobrecontratação – Com isso, o estudo calculou também as sobras de energia no ACR resultantes da queda da carga projetada que serviu de base para a contratação de fornecimento com os geradores. Cada mês de quarentena deve elevar a sobrecontratação das distribuidoras em cerca de 0,8%, resultando em uma sobra de 11% a 13% do mercado, dependendo da duração da quarentena ir de um a três meses.  Já a retração econômica provocada pela paralisação das atividades deve provocar outros 0,8% de redução no ano, segundo o estudo.

Com base nos números oficiais de projeção do PIB, divulgados em 20 de março pelo Banco Central (que reduziu sua previsão de crescimento de 2,1% para 0,02% neste ano e de 2,8% para 2,3% no ano que vem), a CCEE prevê agora uma retração 0,9% da carga de energia em 2020, comparado a 2019. A carga deve situar-se em 67,25 GW médios este ano, ante 70,83 GWm da previsão anterior. Espera-se, no entanto, uma nova e acentuada diminuição da projeção oficial do PIB, o que levará a CCEE a refazer os cálculos.

O preço no mercado à vista (PLD) médio do ano deverá ser 37% menor do que o previsto anteriormente, o que é outra má notícia para as distribuidoras e consumidores livres com sobras de energia contratada. Já o risco hidrológico das usinas geradoras hidrelétricas (conhecido pela sigla em inglês GSF, de generation scale factor) caiu apenas 1% na nova projeção da CCEE, de 82,7% para 81,7%. Isso porque, segundo Altieri, com a queda do consumo, as usinas que deixarão de ser despachadas serão as térmicas, não as hidráulicas.

O presidente do conselho da CCEE disse que até o dia 3 de abril não havia registro de descumprimento de contratos no mercado de curto prazo do ACL, mas ele espera um grande número de pedidos de renegociação na Câmara. “O maior efeito das medidas de contenção acontecerá a partir deste mês de abril, e certamente haverá solicitações nesse sentido”.  As renegociações do ACL serão conduzidas pela CCEE. Quanto ao mercado regulado e às dificuldades das distribuidoras, uma solução, provavelmente uma nova “Conta-ACR” (instrumento de socorro a essas empresas empregado em 2014), está em elaboração pelo Ministério de Minas e Energia e pela Aneel. 



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