Gestão para reduzir obstruções na rede coletora de esgoto


O controle da redução de obstruções por meio do refinamento, identificação e gerenciamento dos pontos críticos permite a consolidação das informações em banco de dados, propiciando um novo conceito no monitoramento da incidência de manutenção na rede coletora, além de se tornar uma fonte de dados mais refinada e objetiva para análise e elaboração de projetos.


Aristides Abrantes Simões Neto, Alexandre Ribeiro Vieira e Dawana Cristina de Oliveira Almeida Aguiar, da Sabesp

Data: 01/09/2016

Edição: Hydro Setembro 2016 - Ano - XI No 119

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O gerenciamento e acompanhamento diário das obstruções da rede coletora contempla ações para o controle e prevenção de doenças, redução de impacto com intervenções, mitigação da poluição de rios e córregos, preservação dos mananciais e melhoria da qualidade de vida da população, entre outros fatores de beneficiamento para a sociedade e o meio ambiente. Para isso, é preciso monitorar e mapear os pontos críticos (gargalos) a partir dos limites de sub-bacias de esgotamento, para determinar as ações corretivas e/ou preventivas a serem aplicadas.

A Unidade de Gerenciamento Regional Interlagos, da Sabesp, atua na operação da coleta e transporte do esgoto de uma parcela da Região Sul do município de São Paulo. Com a oferta da metodologia de gestão no local, a unidade faz o acompanhamento e controle para subsidiar as diversas análises e diagnósticos de solução, refinando a informação aos pontos de atuação e fornecendo resultados satisfatórios com intervenções eficazes para garantir a qualidade dos serviços prestados.

Materiais e métodos

Os diversos canais de atendimento às reclamações de manutenção em rede coletora de esgoto, tais como obstrução, vazamento ou identificação de responsabilidade para definir a atuação são registrados em sistema corporativo, oferecendo um identificador numérico para acompanhamento das etapas de execução dos serviços.

A partir do levantamento diário de informações em consulta ao sistema corporativo, um banco de dados específico da Sabesp colabora com o gerenciamento, acompanhamento e mapeamento dos pontos de incidências e reincidências oriundas de anomalias no sistema coletor de esgoto. É gerado um histórico com atualização contínua, que possibilita a análise das ações implementadas e o confronto com manutenções ou obras realizadas, diagnósticos, estudos e projetos existentes.

Além de fornecer informações do índice de obstrução por bacia de esgotamento, calculado a partir do número de solicitações e da extensão de rede, é possível verificar as ocorrências por diversos níveis, histórico de resultados anualizado, análise de confluência para trechos críticos e a projeção do indicador IORC – índice de obstrução da rede coletora.

Procede-se com o refinamento das informações a partir do histórico do banco de dados, por níveis, seguindo estrutura de identificação por bairro; bacia de esgotamento; sub-bacia de esgotamento; área de influência de estação elevatória de esgoto; e logradouro.

Desse modo, é possível identificar a área de influência e o método de viabilidade técnica adequado para atuação e resolução do problema (filmagem de rede, substituição, remanejamento, redimensionamento, bombeamento ou manutenção pontual) e, em alguns casos, orientação ao cliente sobre o uso correto do descarte de esgoto doméstico ou industrial no sistema coletor.

A partir da consolidação das informações, mapeia-se os pontos de incidências por trechos considerados como anômalos à operação do sistema, caracterizados pela sua criticidade e interferências, para a análise gráfica do problema identificado (pontual ou de maior proporção). Assim, é oferecida a possibilidade de verificar a extensão do problema em plataforma cadastral com informações técnicas e comerciais (se necessário), auxiliando na tomada de decisão.

A gestão das informações em forma de planilha e os resultados obtidos com a análise gráfica (mapas de trechos críticos), permite subsidiar a tomada de decisão para proposição de soluções aos problemas identificados, tais como: lançamentos irregulares (clandestinos); alteração na qualidade de corpos d’água monitorados; manutenção das redes coletoras de esgoto existentes; reparo de vazamentos; execução de obras para melhoria da eficiência no transporte do esgoto coletado (remanejamento, substituição; redimensionamento ou prolongamento); e conexão de imóveis à rede ou lavagem preventiva.

Resultados

A aplicação do trabalho, a partir do gerenciamento diário da carteira de serviços (banco de dados), propicia a aplicação de soluções com alto índice de acerto, resultando na redução da quantidade de obstruções na rede coletora e vazamentos com transbordamento, em geral na via pública causando transtornos às pessoas e ao ambiente, principalmente nos casos de reincidências. Desde a aplicação da prática de forma estruturada em fevereiro de 2015, nota-se atenuação nos resultados do indicador IORC (equação (1) para o cálculo anualizado e equação (2) para o cálculo mensal):

No obstruções nos últimos 12 meses/ média da extensão de redes (km) nos últimos 12 meses x 100 (1)

No obstruções mês/extensão de rede no mês (km) x 100 (2)

Houve significativa redução de 13,3% nos resultados calculados, para o período de janeiro a dezembro de 2015, superando em 22,8% a redução projetada em planejamento para o mesmo período.

Após análise das informações e diagnóstico dos trechos críticos, é possível agilizar o fluxo de avaliação e ações na origem dos problemas, com a proposição de ações corretivas e/ou preventivas, eliminando a possibilidade de incidência para o trecho.

Também diminui a necessidade de aportes direcionados à manutenção. Por outro lado, há significativa melhora da qualidade de vida dos moradores afetados pelo problema, diminuição das reclamações nos canais de atendimento, melhor direcionamento das equipes e cumprimento das metas planejadas. Além da mitigação dos impactos com intervenções em vias públicas, contaminação de corpos d’água e consequentemente do manancial.

Os expressivos resultados com tendência positiva justificam e reforçam a aplicação da metodologia de gestão diária na redução de obstruções por meio do refinamento, identificação e gerenciamento dos pontos críticos.

Conclusões

O desgaste natural do sistema coletor somado ao mau uso da rede provoca avarias e diminui o desempenho do sistema de coleta e transporte de esgoto. As obstruções causadas na rede coletora geram, entre outros problemas, extravasamento de esgoto, com impacto direto ao meio e à população em geral, oferecendo riscos de contaminação e condições insalubres.

O controle da redução de obstruções por meio do refinamento, identificação e gerenciamento dos pontos críticos permite a consolidação das informações em banco de dados, propiciando um novo conceito no monitoramento da incidência de manutenção na rede coletora, sendo uma fonte de dados mais refinada e objetiva para análise e elaboração de projetos.

Sugere-se a aplicação dessa metodologia de gestão e atuação nos pontos críticos mapeados, permitindo a tomada de decisão rápida para proposição de ações na causa do problema. Com isso, novas ocorrências de obstrução são eliminadas, e a junção de ações preventivas e corretivas bem planejadas favorecem todo o sistema coletor de esgoto.